O VIII Encontro Ambiental de São Paulo (EcoSP) finalizou as atividades na tarde do dia 28 de abril último, com palestras sobre os plásticos e suas contribuições à sociedade; as aves da Mata Atlântica e os impactos ambientais da tragédias de Mariana (MG). O coordenador do evento, o vice-presidente do SEESP Carlos Alberto Guimarães Garcez, avaliou os dois dias do encontro como positivos à discussão premente sobre a sustentabilidade em todas as atividades produtivas.
Considerado um dos vilões do meio ambiente, o plástico foi tema da apresentação de Miguel Bahiense, da empresa Plastivida. “Meu desafio é falar que o plástico traz benefícios, e digo isso levando em conta comprovações científicas”, salientou. Para ele, as críticas que se fazem ao material são feitas sem conhecimento de causa e destacou: “O plástico é uma ferramenta importante para o desenvolvimento sustentável.”
Fotos: Beatriz Arruda/SEESP
Representante da Plastivida disse que o plástico não pode ser considerado o vilão do meio ambiente.
Um dos problemas enfrentados pelo material – que vem das resinas derivadas do petróleo e pertence ao grupo dos polímeros (moléculas muito grandes, com características especiais e variadas) – é o uso não consciente dos diversos tipos de objetos de plástico. O caso mais emblemático, segundo Bahiense, é o das sacolas de supermercados. “Acabamos colocando mais de uma sacola para levar as compras, até porque ela é frágil e rasga à toa.” Isso porque, explicou o diretor da Plastivida, muitas dessas sacolas são produzidas fora da norma técnica, o que compromete o seu uso. “Uma sacola feita dentro dos padrões corretos suporta até seis quilos de produtos, mas não é o que ocorre”, lamentou. Fazer de forma adequada, comentou, evitaria o desperdício e garantiria o consumo consciente.
Por isso, ressaltou que a questão do uso do plástico está diretamente ligada à educação ambiental. “A Plastivida está comprometida em articular e ativar uma rede de cooperação que integre produção, consumo e pós-consumo nas cadeias onde o plástico está inserido.” O plástico, segundo ele, vira vilão na hora, principalmente, do descarte incorreto.
Para mostrar que o material não é a maior fonte de poluição do meio ambiente, Bahiense disse que apenas 4% do petróleo do mundo são utilizados para a produção do material.
Para ele, a sociedade não vive sem a aplicação do plástico. Ele está, relacionou, em embalagens as mais diversas, na infraestrutura, na construção civil, em eletroeletrônicos, na agricultura, no transporte, na medicina (bolsas de sangue e no coração artificial) etc.. Bahiense, que não consegue ver um mundo sem o plástico, defendeu o desenvolvimento da consciência no seu manuseio, dizendo que a Plastivida é adepta dos “3Rs”: Reduzir (o consumo), Reutilizar e Reciclar (mecânica, energética e química).
Aves da Mata Atlântica
A palestra seguinte foi com a bióloga Viviane Rodrigues Reis, da Agência Ambiental Pick-upau. Ela apresentou o projeto da organização criada em 1999 por ex-integrantes do Greenpeace. Ela informou que são mais de 130 parceiros, entre eles o Ministério do Meio Ambiente, a Petrobras e o banco Itaú. “Desenvolvemos diversas ações de pesquisa e educacional, entre elas os projetos Darwin e Refazenda.”
A bióloga Viviane Rodrigues falou sobre projeto que desenvolve ações junto a fauna e flora da Mata Atlântica.
O Refazenda, explicou, tem entre seus principais objetivos a produção de mudas florestais, como forma de fomento da economia de comunidades tradicionais e o aumento da oferta de produtos florestais destinados à recuperação e ampliação da cobertura vegetal de biomas brasileiros. Já o Darwin tem como principais características conhecer e divulgar os atributos naturais e culturais dos Biomas Brasileiros, com ênfase na Floresta Atlântica Tropical, incluindo áreas particulares e Unidades de Conservação.
Outra importante ação do Pick-upau, segundo Reis, é o “Aves da Mata Atlântica” que já identificou duzentas espécies de aves durante suas expedições científicas e estuda o comportamento de espécies da avifauna. As espécies, explicou, foram registradas por fotografias, vídeos e gravações de vocalizações.
O “Aves da Mata Atlântica” realiza pesquisas nos municípios do litoral norte de São Paulo Bertioga, São Sebastião, Caraguatatuba e Ubatuba; além de ações de sensibilização socioambiental e produção e plantio de mudas de espécies nativas voltadas à conservação da avifauna.
Tragédia anunciada
O VIII EcoSP foi encerrado com um alerta às empresas para que tenham boas práticas ambientais sob pena de provocar tragédias e acidentes. Foi o caso da cidade de Mariana, em Minas Gerais, conforme expôs o vice-prefeito da cidade, Newton Geraldo Xavier Godoy. O município, com 300 anos e considerada histórica, hoje vive agruras econômicas e sociais em consequência do rompimento da barragem da mineradora Samarco, em 5 de novembro de 2015, que deixou 18 mortos, um desaparecido, 504 desabrigados, 308 desalojados. Foram afetadas diretamente mais de 2.800 pessoas; e indiretamente mais de 65 mil.
Vice-prefeito de Mariana disse que cidade vive sérios impactos sociais e econômicos após dois anos da tragédia.
Os danos ambientais, informou Godoy, se estendeu a 663km de rios e córregos e a 1.469 hectares de vegetação. Os rejeitos da mineradora chegaram até a foz do Rio Doce, no encontro com o Oceano Atlântico, impactando, no percurso, diversos municípios nos Estados de Minas Gerais e Espírito Santo. Em Minas, o rompimento da barragem afetou os distritos de Bento Rodrigues e Paracatu de Baixo, em Mariana, e Gesteira, distrito de Barra Longa, município que também sofreu impacto em sua sede. No estado capixaba, as cidades afetadas foram Baixo Guandu, Colatina e Linhares, onde fica a foz do rio. Em sua exposição, Godoy disse que 32 milhões de m³ de rejeitos saíram da área de propriedade da Samarco.
Godoy informou que o estado mineiro tem 900 barragens de empresas mineradoras. A Samarco iniciou as atividades em Mariana em 1977, e, hoje, tem como donos a Vale e a australiana BHP Billiton. A dependência de Mariana com a atividade da empresa era quase total, como informou o vice-prefeito, chegando a quase 89% das atividades econômicas. “A arrecadação de impostos era de um milhão de reais por dia, totalizando mais de R$ 30 milhões mensais. Depois do acidente, essa arrecadação caiu para R$ 17 milhões”, lamentou.
O novo perfil econômico de Mariana trouxe muitos problemas e deixou “o povo sem esperança”, disse Godoy. “Nossa população é de 67 mil pessoas. Hoje temos 13 mil desempregados, desses, nove mil são dispensas relacionadas à paralisação da Samarco. A Prefeitura também está demitindo porque não tem como manter o seu efetivo. Isso tem reflexos nos serviços públicos oferecidos, desde saúde a educação.”
Tamanha dependência da Samarco foi criticada pelo vice-prefeito. “Éramos uma cidade-cigarra, e não formiga. Não nos desenvolvemos em outros setores. Por isso, tudo o que se fizer agora só terá resultado em médio e longo prazo.” Ao mesmo tempo, ele criticou a postura da mineradora: “A vontade de faturar e vender foi maior que a responsabilidade.”
Um terço dos rejeitos da mineradora caiu junto com a barragem do Fundão, aumentando a largura de rios e varrendo animais junto com a lama, que chegou a uma altura de até oito metros, descreveu Godoy. “Era um cenário de guerra.” O acidente, que aconteceu por volta das 16h, praticamente acabou com a zona rural de Bento Rodrigues. “O horário evitou que mais gente morresse, porque muitas pessoas ainda estavam no trabalho.”
Godoy disse, ainda, que faltou um plano de contingência adequado e eficaz. E mais uma vez lamentou: “Deveríamos ter tido uma segurança maior.” De acordo com o vice-prefeito, a vila não será reconstruída e pensa-se na construção de um memorial no local.
Godoy informou que foi criada a Fundação Renova cuja missão é a de implementar e gerir os programas de reparação, restauração e reconstrução das regiões impactadas pelo rompimento da barragem de Fundão. Os programas, previstos no Termo de Transação de Ajustamento de Conduta (TTAC), estão reunidos em duas principais frentes: socioambiental e socioeconômica. Estão previstos, conforme o vice-prefeito, recursos da ordem de R$ 20 bilhões nos próximos dez anos.
Ao final da exposição do vice-prefeito de Mariana, o presidente Murilo Pinheiro disse que a FNE pretende realizar, ainda este ano, um encontro da engenharia no município mineiro. “Precisamos provocar o governo federal a assumir suas responsabilidades com relação a esse desastre nacional. O nosso objetivo é ajudar a reconstruir Mariana e colocá-la de novo como uma cidade pujante.”
O VIII EcoSP foi realizado entre os dias 27 e 28 de abril, na sede do SEESP, na capital paulista.
Cobertura completa
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VIII EcoSP debate apicultura e ruídos urbanos
Encontro ambiental apresenta ações para garantir sustentabilidade nas cidades
Apoio ao movimento do dia 28 de abril no VIII EcoSP
Rosângela Ribeiro Gil
Comunicação SEESP