Jéssica Silva
Representando 10% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, a indústria de alimentos e bebidas é a maior do País. No mundo, é a segunda maior exportadora com produtos presentes em 190 países. Em 2022, o setor encerrou o ano com faturamento de R$ 1,075 trilhão, segundo balanço da Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (Abia).
Diretamente ligado a esta potência está o trabalho do engenheiro de alimentos, que atua no acondicionamento, preservação, distribuição, transporte e abastecimento de produtos alimentares, e atividades correlatas, de acordo com o Mapa da Profissão – elaborado pelo setor Oportunidades na Engenharia do SEESP.
Para o professor da Faculdade de Engenharia de Alimentos da Universidade Estadual de Campinas (FEA-Unicamp), Marcelo Alexandre Prado, o mercado demanda profissionais desta qualificação.
“Existem cerca de 38 mil empresas no ramo alimentício”, ele frisa e compara: “conforme o Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea), estão registrados 6.027 profissionais de engenharia de alimentos. Ou seja, por esses dados há uma falta de mão de obra especializada para atender a todas essas empresas”.
Apesar de parecer uma engenharia pouco popular, a modalidade está regulamentada no Brasil desde 1973. Além da indústria de alimentos, que gera cerca de 1,8 milhão de empregos, é crescente a procura do profissional qualificado em restaurantes, redes de fast food e distribuidoras, como aponta levantamento do portal Guia da Carreira.
“Por ser uma engenharia, é logico que precisa conhecer a área de exatas, matemática e física, mas também é um curso em que aqueles que gostam de química e biologia serão ótimos alunos, pois a Engenharia de Alimentos consegue unir essas grandes áreas”, ressalta Prado em entrevista ao SEESP.
Como o senhor chegou à Engenharia de Alimentos?
Eu não tinha ideia do que seria Engenharia de Alimentos, nunca tinha ouvido falar, isto era nos anos 1980. A Unicamp possui um programa de visitas chamado Universidade de Portas Abertas (UPA), em que alunos do ensino médio visitam as dependências da universidade e são apresentados aos cursos oferecidos. Foi nessa visita à Unicamp que conheci o curso e me apaixonei. Durante a graduação tive muitas dificuldades, mas com paciência e estudos consegui me formar. E tive uma participação bem ativa no universo estudantil; fui do centro acadêmico, da empresa júnior, fiz iniciação científica, fui representante de alunos etc..
Formado, trabalhei por pouco tempo como encarregado de produção, numa indústria de grande porte no ramo de chocolates, mas não era minha vocação. Eu já havia trabalhado em cursinhos pré-vestibulares e gostava de ministrar aulas. Então decidi que seguiria a carreira acadêmica. Fiz pós-graduação em Ciências de Alimentos, com ênfase em análise, fiz estágio em Portugal, num centro de pesquisas. Após isso, prestei concurso público na Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA-Unicamp), a mesma que cursei, e fui aprovado. São 19 anos de atuação desde então.
Atualmente divido meu tempo entre ministrar aulas, palestras, congressos, realizo pesquisas, oriento alunos de iniciação científica, mestrado e doutorado. Também realizo diversas atividades administrativas, como participar de comissões de graduação, representações; sou conselheiro do Crea-SP representado a FEA, sou também coordenador da moradia estudantil da Unicamp, atuo como mentor da empresa júnior de alimentos “Gepea”.
Qual sua análise quanto ao mercado de trabalho para o engenheiro de alimentos atualmente?
É um setor sólido, com o desenvolvimento do agronegócio, uma das carreiras beneficiadas é a do engenheiro de alimentos, pois todos esses produtos agrícolas precisam de certo grau de processamento para chegar de forma adequada aos consumidores. Se imaginarmos que tudo que existe de alimentos num supermercado foi produzido por uma empresa do ramo, então a atuação deste engenheiro se faz presente, seja no desenvolvendo de novos produtos, ou elucidando os componentes destes alimentos, e outras tarefas com foco na melhoria da qualidade de vida das pessoas.
Segundo dados da Abia, existem cerca de 38 mil empresas no ramo alimentício. Ainda, conforme o Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea), estão registrados 6.027 profissionais de engenharia de alimentos. Ou seja, por esses dados há uma falta de mão de obra especializada para atender a todas essas empresas.
Então a dica do senhor para os ingressantes na universidade é investir na Engenharia de Alimentos?
O curso é extremamente gratificante. Por ser uma engenharia é logico que precisa conhecer a área de exatas, matemática e física, mas também é um curso em que aqueles que gostam de química e biologia serão ótimos alunos, pois a Engenharia de Alimentos consegue unir essas grandes áreas.
Na visão do senhor, qual papel da Engenharia de Alimentos no desenvolvimento nacional?
Com a forte atuação do agronegócio no Brasil, a demanda por mão de obra especializada para processar e industrializar esses alimentos é muito grande. Se não fosse por essa industrialização, a perda de alimentos seria ainda maior, pois do campo até a mesa do consumidor muita coisa acontece. Inclusive uma das grandes preocupações que o engenheiro de alimentos possui é com relação à segurança dos alimentos, de que modo esse alimento pode chegar ao consumidor de forma saudável, sem perder suas qualidades nutricionais.