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Soraya Misleh

         O SEESP realizou em 10 de dezembro sua tradicional ceri­mônia de entrega do prêmio Personalidade da Tecnologia, em comemoração ao Dia do Engenheiro – 11 do mesmo mês. Em sua 24ª edição, agraciou seis nomes de destaque em suas áreas de atua­ção, sendo quatro engenheiros, um químico e um sindicalista e político. São eles: José Roberto Cardoso (na categoria Educa­ção), Alex Kenya Abiko (Engenharia urbana), Fernando Galem­beck (Enge­nharia e inovação tecnológica), Luiz Roberto Batista Chagas (In­ter­nacio­na­lização da engenharia), Jurandir Fernandes (Trans­portes e logística) e Paulo Pereira da Silva (Valorização profissional).
         A homenagem contou com a presença de cer­ca de 200 pessoas, incluindo autoridades, re­presentantes de entidades da área tecnológica e ex-presidentes do sindicato. Compuseram a mesa Cardoso, coordenador do CT (Con­selho Tecnológico) do SEESP e diretor da Poli/USP (Escola Politécnica da Universidade de São Paulo); Hélio Guerra, ex-reitor dessa instituição; Flávio Brízida, secretário adjunto de Esportes, Lazer e Turismo do Estado de São Paulo; Ailton Brasiliense, presidente da ANTP (Associação Nacional de Transportes Públicos); Marcos Túlio de Melo, presidente do Confea (Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia); e Silvana Guarnie­ri, presidente da delegacia do sindicato no Grande ABC, que representou as 25 sub­sedes da entidade no Interior na oportuni­dade; além de Murilo Celso de Campos Pi­nheiro, presidente estadual do SEESP. À abertura, este último lembrou a importância da premiação, como reconhecimento àque­les que “tanto contribuíram ao desenvolvi­mento do Estado e do País”. 
         Escolhido para ser laureado na área de edu­cação por unanimidade pelos demais membros do CT, Cardoso também valorizou a ini­ciativa, que premiou nomes como Hélio Guer­ra, que esteve à frente da produção do pri­meiro computador brasileiro; e João Antonio Zuffo, que desenvolveu a microeletrônica em âmbito nacional junto com colegas da Uni­camp (Universidade Estadual de Campinas). Além da ousadia e criatividade, ele concluiu: “Os agraciados representam a busca da educação de qualidade e do crescimento.”
         Focando no primeiro tema, Cardoso sa­lientou a preocupação sobretudo com o ensino médio. “Em um concurso em maio último em que havia 900 vagas em São Paulo e 6 mil ins­critos, só foram preenchidas 300. Co­mo con­sequência, temos teólogos dando aula de física. Como alguém que não tem for­mação nessa área consegue mostrar sua bele­za?.” Ele acres­centou: “A estimativa é que faltem algo em torno de 200 mil profissionais nessas áreas que são vetores para a formação em enge­nharia, cujos números assustam. Em 2009, 400 mil prestaram vestibular e foram aprovados apenas 150 mil, dos quais somente pouco mais de 30 mil obterão o diploma.” Na sua ótica, para mudar esse panorama, é preciso ter ofi­cinas livres, rede de computado­res eficiente e profissionais disponíveis. “Fe­lizmente, há na Poli um grupo de docentes sensível ao desafio de reerguer o ensino de engenharia, ao que contamos com a colabora­ção da sociedade civil.” A criação da IES (Instituição de Ensino Superior) pelo SEESP segue esse caminho (confira em Canteiro).

Visão de futuro
        Ao ser agraciado, Galembeck deixou duas mensagens: a primeira é de que é preciso aproveitar a oportunidade histórica colocada pelo momento auspicioso. A segunda é de que há um conhecimento básico enorme ain­da a ser dominado a fim de se viver melhor. O desa­fio, na sua concepção, é utilizar a ciên­cia para tanto, transformando-a em novas tecnologias.
       Abiko ressaltou que a atuação dos enge­nheiros na área de urbanização assegurou ao Brasil excelente resultado nesse segmen­to, com 84% da população ocupando as ci­dades. No Estado de São Paulo, o percentual é ainda maior: 94%. Países nessa situação, de acordo com ele, têm melhores indicado­res sociais. “A urbanização é fato positivo, apesar dos problemas a serem enfrentados, como falta de habitação, enchentes, mobilidade.” A enge­nharia, como frisou, tem pa­pel importante na resolução dessas questões afeitas à gestão das cidades e a que o desen­volvimento ocorra de forma sustentá­vel, inclu­siva e solidária. Cha­gas destacou que as solu­ções nascem da sinergia entre as pes­soas e de fazer o trabalho com amor e dedicação.
       Paixão que Fernandes declarou pelo traba­lho no setor de transportes e logística. Convidado a assumir novamente a Secretaria Esta­dual dos Transportes Metropolitanos, ele foi categórico: “O que me empolga é que sempre há por fazer. Novas realidades vão se impon­do.” Na sua opinião, hoje está um pouco mais fácil pensar o futuro quanto à mobilidade, mas é fundamental casar as iniciativas com o de­senvolvimento urbano. “Há milhares de pes­soas trabalhando em distâncias enormes. Temos que equalizar isso. E se não cuidarmos de investir continuamente em logística, vamos criar gargalos cada vez mais intransponíveis.”
       O último homenageado da noite foi Pau­lo Pereira da Silva, o Paulinho da Força. Ele contou um pouco de sua trajetória en­quanto filho de trabalhadores rurais que veio para São Paulo em 1976 e começou a militar no ano seguinte. “Passei a vida in­teira fazendo greve, passeatas, em defesa dos mais pobres, dos salários, e estou muito satisfeito em receber esse prêmio.”

Personalidades da Tecnologia 2010
Educação
José Roberto Cardoso
         Engenheiro eletricista formado pela Poli/USP (Escola Politécnica da Universidade de São Paulo) em 1974, é mestre, doutor e livre-docente em engenharia elétrica pela mesma instituição. Realizou pós-doutorado no Laboratoire d´Electrotechnique de Grenoble, na França. Atualmente é diretor da Poli/USP e do seu Laboratório de Eletromagnetismo Aplicado, além de pesquisador do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico). É também coordenador do Conselho Tecnológico do SEESP e assessor da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), CNPq e Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior).

Engenharia e inovação tecnológica
Fernando Galembeck
         Químico formado pela USP (Universidade de São Paulo) em 1964, é doutor em ciências pela mesma instituição. Concluiu o pós-doutorado nos Estados Unidos nas universidades da Califórnia e do Colorado. Atualmente é professor titular do Instituto de Química da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas). Foi responsável pela descoberta de como a eletricidade é produzida e descarregada na atmosfera, que pode abrir caminho à sua transformação em nova fonte de energia sustentável. Foi dirigente de vários órgãos de ciência e tecnologia. Participou da concepção, elaboração e implementação do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico, que revolucionou a área de química no Brasil.

Engenharia urbana
Alex Kenya Abiko
         Engenheiro civil formado pela Poli/USP (Escola Politécnica da Universidade de São Paulo) em 1973, é mestre, doutor e livre-docente em engenharia urbana e de construção civil pela mesma instituição. Atualmente é professor titular em gestão urbana e habitacional e chefe do Departamento de Engenharia da Construção Civil, na Poli/USP. Foi consultor do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, da Financiadora de Estudos e Projetos, da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior e consultor “ad hoc” do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico e das fundações de amparo à pesquisa de São Paulo e do Rio Grande do Sul.

Internacionalização da engenharia
Luiz R. Batista Chagas
         Engenheiro civil formado pela Escola Politécnica da UFBA (Universidade Federal da Bahia) em 1968, foi responsável por várias obras emblemáticas das fases de expansão nacional e de internacionalização da Odebrecht, empresa em que atua há mais de 40 anos. Participou da construção de hidrelétricas, pontes, minas de carvão, ferrovias, terminais portuários e gasodutos, rodovias, metrôs, estações de tratamento de esgoto, projetos de irrigação, barragens e transposição, em países como África, Argentina, Chile, Colômbia, Emirados Árabes, Equador, Estados Unidos, México, Panamá, Peru, Portugal, Uruguai e Venezuela, entre outros. É autor do título “Engenharia da construção – obras de grande porte”.

Transportes e logística
Jurandir Fernandes
         Engenheiro mecânico formado pelo ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica) em 1972, é mestre e doutor pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas). Atuou como professor convidado na França. Entre os cargos exercidos, foi secretário dos Transportes em Campinas, entre 1993 e 1996, além de presidente da ANTP (Associação Nacional de Transportes Públicos), entre 2001 e 2005. Presidiu ainda a Divisão Latino-americana da UITP (União Internacional de Transportes Públicos), entre 2003 e 2007, e a Emplasa (Empresa Paulista de Planejamento Metropolitano), entre 2007 e 2009. Atualmente é vice-presidente honorário da UITP e se mantém no cargo de secretário dos Transportes Metropolitanos do Estado de São Paulo, que ocupa desde 2001.

Valorização profissional
Paulo Pereira da Silva
         Líder sindical, defende os interesses dos trabalhadores desde a década de 70. Atualmente é presidente da Força Sindical e deputado federal pelo PDT/SP. Exerceu vários cargos na diretoria do Sindicato dos Metalúrgicos, inclusive de presidente. Participou de diversas negociações trabalhistas que resultaram em conquistas, como a criação da PLR (Participação nos Lucros e Resultados das Empresas) e o acordo com o Governo para pagamento de perdas do FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço). Em 2004, assumiu a Presidência Estadual do Diretório do PDT. Em 2006, foi eleito deputado federal e em 2010 foi reeleito, sendo o quinto mais votado em São Paulo.

 

 

Lucélia Barbosa

         Formar profissionais capacitados a enfrentar os desa­fios do século XXI e as demandas do desenvolvimento das nações exigirá lançar mão de métodos avançados e cativantes de ensino, além de garantir envol­vimento prático dos alunos. A receita foi dada por Lueny Morell, gerente do Programa de Inovação e Pesquisa da HP (Hewlett Packard), numa palestra entusiasmada, realizada em 3 dezembro, no auditório do SEESP. 
         Iniciativa do Isitec (Instituto Superior de Inovação e Tecnologia), em fase de implantação pelo sindicato, o evento inaugurou a série “Encontros de Tecnologia de Educa­ção em Engenharia”, que pretende, ao lon­go de 2011, discutir as mudanças necessárias no ensino da profissão, assegu­rando nível de excelência aos egressos.
         Também membro da Fundação Nacional de Ciências dos Estados Unidos e do Comi­tê Consultivo Internacional de Ciência e En­genharia, Morell ressaltou a necessidade de cooperação para se chegar a tal meta: “Te­mos que reformular o ensino para que sirva melhor à sociedade. Os problemas enfren­tados hoje só poderão ser resolvidos com cooperação e investimento intensivo em educação e inovação. Nenhum governo, universidade ou empresa poderão solucio­nar sozinhos esses desafios. A colaboração tem que ser parte do nosso DNA”, enfatizou.
         Conforme a conferencista, o engenheiro do século XXI precisa ter um conjunto de competências e habilidades profissionais que en­volvem características distintas co­mo capaci­dade de trabalhar em grandes grupos, de se comunicar com várias pes­soas ao mesmo tempo ao redor do mundo, de ser persuasivo, inovador e preparado para lidar com projetos complexos e conse­guir resultados surpreenden­tes. “É uma mistura de inventor, empresário e engenhei­ro”, descreveu. Segundo ela, hoje a princi­pal dificuldade do mundo é encontrar esse novo profissional. Isso porque há um descompasso muito grande entre o que as uni­versidades estão produzindo e as reais necessidades dos países. “Precisamos refor­mular o currículo dos cursos de acordo com as realidades”, sugeriu. 
         Na visão da especialista, países como Cin­gapura e Coréia do Sul estão crescendo rapidamente porque perceberam a neces­sidade de investir em ciência, tecnologia e inovação. “Essas nações notaram a impor­tância de de­senvolver suas economias baseadas no conhe­cimento. Os coreanos, por exemplo, au­menta­ram drasticamente o número de enge­nheiros formados, dividiram as escolas em três cate­gorias – geral, mercado vertical e gran­des com­panhias – e estão trabalhando de forma efetiva na qualidade dos estudantes”, informou.

Propostas para mudar
         Morell apresentou cinco ações que po­dem melhorar o ensino de engenharia. A primeira é inovar e reformar o currículo e a experiência de aprendizagem. Conforme ela, embora as escolas tenham como obje­tivo preparar os alunos para a profissão, elas são fortemente influenciadas pelas tra­dições acadêmicas que na maioria das ve­zes estão obsoletas. 
         Foco na aprendizagem é o segundo desa­fio. Para a conferencista, o educador deve ser mentor dos alunos e preencher a lacuna entre a maneira de ensinar e a prática dos engenheiros. “Nos Estados Unidos, 87% dos professores utilizam a palestra como princi­pal método de ensino. Isso é tão ineficiente que uma pesquisa constatou que 70% dos estudantes prestam atenção ape­nas aos dez primeiros minutos da aula e somente 20% acompanham a explanação por 50 minutos”, relatou. Para tornar o pro­cesso mais estimu­lante, Morell sugere a criação de ambientes de prática para que alunos e professores trabalhem em projetos reais. “O ideal é atuar em equipe, visitar empresas, fazer exercícios frequentes em sala de aula, laboratórios, entre outras ações”, recomendou. 
         Outra mudança é fomentar a criatividade. “Essa ação tem que ser uma cultura. Porque inovação é o instrumento específico do em­preen­dedorismo e da empregabilidade. É a capacidade de criar riqueza e um mundo me­lhor”, destacou. 
         Implantar um processo de avaliação contínua e garantia de qualida­de é a quarta proposta su­geri­da por Morell. Conforme explicou, a esco­la de engenharia é a empresa mais importante da humani­dade, porque cria talentos que transfor­mam a vida das pessoas e, por isso, deve garantir excelên­cia no ensino. “A meta é definir ações, executá-las e procurar sempre me­lhorá-las.” A quinta missão é educar o pro­fessor, muitas vezes uma mescla preo­cupante de engenheiro que não pratica a pro­fissão e educa­dor que não é da área. “Essa é a tarefa mais difícil. O perfil dese­jado é uma mistura equilibra­da do acadêmico com o profissional que atue em projetos reais. Um mentor comunicativo que consiga atrair os alunos, além de ser comprome­tido com a cidadania global”, apontou. 
         O debate contou com a participação de João Sérgio Cordeiro, professor da UFSCar (Univer­sidade Federal de São Carlos) e presidente da Abenge (Associação Brasileira de Ensino de Engenharia); Paulo Afonso Ferreira, 1º secre­tário da CNI (Confederação Nacional da In­dústria) e diretor-geral do IEL (Instituto Eu­valdo Lodi); e Roberto Lobo, presidente do Instituto Lobo para o Desenvolvimento da Edu­cação, da Ciência e da Tecnologia.

 

 

 

16/12/2010

CANTEIRO

IES é apresentada na Câmara de Comércio Brasil-Alemanha
         O presidente do SEESP, Muri­lo Celso de Campos Pinheiro, realizou em 3 de dezembro, em São Paulo, uma apresentação so­bre a IES (Instituição de Ensino Superior) que está sendo criada pelo sindicato, durante a reunião de encerramento de 2010 da Câ­mara de Comércio Brasil-Ale­ma­nha. Participaram cerca de 50 pre­sidentes de empresas do país eu­ropeu que atuam no Brasil, além de Edgar Horny, que co­manda a VDI-Brasil (Associa­ção de Enge­nheiros Brasil-Alemanha), e We­ber Porto, presidente da câmara.
         Pinheiro destacou a neces­sidade de formar mais engenhei­ros e resolver o atual problema de eva­são nos cursos da área. “Em 2010, não chegaremos a 40 mil forman­dos.” Segundo ele, o projeto de uma nova instituição vem ao en­contro dessa deman­da, também do ponto de vista de qualidade e de preenchimento de um novo nicho tecnológico. “A ideia é que seja um paradigma para a formação de engenheiros. Graduação e pós devem estar voltadas às necessida­des da in­dústria.” A IES terá ênfa­se na ca­pacitação em inovação, uma preo­cupação constante do SEESP. Entre os diferenciais pen­sados para a escola, o fomento da rela­ção universidade-empresa, a oferta de educação continuada em nível nacional e o uso da fer­ramenta a distância como apoio ao ensino presencial, moderna infraestrutura e um corpo docen­te com postura inovadora. Ainda conforme Pinheiro, a ideia é con­tatar companhias do Brasil e da Alemanha para cooperação na educação e pesquisa. Por­to sau­dou a iniciativa, que, “ligada à indústria, soa como mú­sica aos ouvidos desse setor. Con­te co­nosco para apoiá-la”.

Acessibilidade é tema em Bauru
         Realizou-se na sede da dele­gacia do SEESP na localidade, no dia 30 de novembro último, pa­lestra intitulada “Acessibili­da­de a edificações, espaços, mobi­liá­rio e equipamentos ur­banos”. Mi­nistrada por Norival Agnelli, membro do Conselho Técnico do Promore (Programa de Mora­dia Econômica), foi promovida pelos engenheiros e arquitetos que integram essa iniciativa e contou com o apoio do SEESP no muni­cípio, bem como do nú­cleo local do IAB (Instituto de Arquitetos) e da Assenag (As­sociação dos En­genheiros, Ar­quitetos e Agrô­nomos de Bau­ru). Agnelli, que é engenheiro e doutor na área de geotecnia, desenvolveu o te­ma com base nas exigências da nor­ma NBR 9050/2004, que regula­menta esse assunto.

FDTE de casa nova
         Desde 30 de novembro último, a FDTE (Fundação para o Desenvolvimento Tecnológico da Engenharia) está em nova sede, em São Paulo. O endereço é Rua Padre Eugenio Lopes, 323/361, no Morumbi. A aquisição e a reforma do edifício de quatro andares, que conta com salas de reuniões, dez de aula e anfiteatro demandaram investimentos de R$ 11 milhões.

Ciência, tecnologia e inovação em pauta
         Em 10 de dezembro último, o Conselho Tecnológico do SEESP realizou na sede dessa entidade uma atividade em que o tema foi abordado. João Antonio del Nero, membro do Conselho Diretor do Sinaenco (Sindicato Na­cional das Empresas de Arquitetu­ra e Engenharia Consultiva), tra­çou histórico da profissão no Bra­sil dos anos 50 aos 80, observando que a formação propiciava há mais de meio século uma visão global. Essa ótica per­mitiu know how fa­buloso e a absor­ção de novas tec­nologias em gran­des obras, que passaram a ser feitas por brasilei­ros. Atualmente, ele constata que, a despeito da qualifi­cação e ex­pe­riência da mão de obra local, tem havido contratação de estrangei­ros, o que não seria neces­sário. Um exemplo se dá nos pro­jetos para a Copa de 2014. “O poder pú­blico está sufocando a consul­toria, ao contratar por pregão, por preço mínimo.” E completou: “O ensi­namento a ser tirado é de que os trabalhos têm que ser feitos com mais engenharia, mais estudos, mais planejamento.”
         Roberto Lobo, do Instituto Lo­bo, apresentou o quadro atual e o projeto da IES (Instituição de En­sino Superior) do SEESP. Ele res­saltou a demanda por profissionais da categoria em um cenário de expansão – de um engenheiro por milhão de dólar investido – so­mada ao déficit de qualidade dessa mão de obra. E indicou a preten­são do sindicato em contribuir pa­ra influir positivamente na melho­ria da situação, com a iniciativa de criação da IES integrada a um centro de pesquisa, inovação e desenvolvimento tecnológico.

Engenharia eletromagnética em livro
         Coordenador do Conselho Tecnológico do SEESP e diretor da Escola Politécnica da USP (Universidade de São Paulo), o professor José Roberto Cardoso lançou no dia 2 de dezembro, na Capital paulista, seu livro “Engenharia eletromagnética” (Ed. Elsevier, 488 pp.). Voltada para alunos do terceiro ano de engenharia elétrica, a obra visa aprofundar a teoria eletromagnética nos pontos fundamentais. Pode ser adquirida no site www.elsevier.com.br.

Oportunidades
         Segundo levantamento feito até 10 de dezembro, a área de Oportunidades & Desenvolvimento Profissional do SEESP dispõe de 158 vagas, sendo 138 para engenheiros das diversas modalidades, 15 para estudantes, 2, trainees e 3, docentes. Para se candidatar, clique aqui. Mais informações pelos telefones (11) 3113-2669/74.

 

 

Saldo positivo, segundo ele, inclui refinarias, estaleiros e grandes obras de infraestrutura, como a transposição do [Rio] São Francisco

       Na cerimônia organizada para apresentar um balanço dos oito anos de governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que o saldo entre erros e acertos da gestão dele pode ser medido pelo alto índice de aprovação popular. Lula agradeceu aos ministros que passaram pelo governo ao longo dos últimos oito anos, inclusive os que deixaram as pastas em “momentos difíceis”. “Podem ficar certos de que, quando eu descer aquela rampa [do Palácio do Planalto], cada partícula das coisas que conquistamos terá tido a participação de cada um de vocês”
       Ao citar ações dos oito anos de mandato, Lula destacou o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) que, segundo ele, transformou o país em um canteiro de obras, movimentou setores da economia que estavam parados e distribuiu obras de infraestrutura para regiões que estavam fora do eixo de desenvolvimento, como o Norte e o Nordeste.
       “O Nordeste, que que só recebia atenção no período da seca, hoje é o berço de novas refinarias, estaleiros e grandes obras de infraestrutura, como a transposição do [Rio] São Francisco. O mesmo [ocorre] na Região Norte, onde estão em construção algumas das maiores, mais modernas e sustentáveis usinas hidrelétricas do mundo”, disse o presidente em discurso.
       Lula ainda exaltou a queda do ritmo de desmatamento na Amazônia, a criação de áreas protegidas e o programa de biodiesel como ações do Brasil para cumprir compromissos de redução das emissões de gases de efeito estufa assumidos internacionalmente.
       Ao fazer um balanço das áreas de educação, ciência e tecnologia, Lula citou a criação de 14 universidades federais e 214 escolas técnicas nos últimos oito anos e a entrada de 750 mil jovens no ensino superior por meio das bolsas do Programa Universidade para Todos (ProUni). “Hoje, centenas de milhares de jovens negros, índios e pobres estão sendo os primeiro membros de suas famílias a contar com diploma universitário”.
       Lula disse que termina o segundo mandato deixando o Brasil com o pré-sal, a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016. “Fomos os últimos a entrar e os primeiros a sair da crise [financeira internacional]. E, se depender da dona Dilma [Rousseff, presidenta eleita] e do seu Guido [Mantega, ministro da Fazenda], chegaremos a ser a quinta economia do mundo em 2016, para ganhar a primeira medalha de ouro logo na abertura das Olimpíadas”.

 

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         Os salários médios em todo o mundo caíram de 0,8% em 2008 para 0,7% em 2009, segundo estudo divulgado hoje (15) pela Organização Internacional do Trabalho (OIT). O resultado, quando excluída a China, sobe para 2,8% em 2007 e 1,6% em 2009. O Relatório Mundial sobre Salários – 2010/2011 atualiza dados de 115 países e avalia a situação de 1,4 bilhões de assalariados.
         Segundo Janine Berg, uma das organizadoras do estudo, foi feita uma análise sem os dados da China porque o governo chinês havia informado apenas sobre salários dos trabalhadores de empresas ou de órgãos governamentais, e a OIT tinha informações de que os empregados no setor privado ganhavam menos. 
         O estudo mostra que, das 28 economias mais industrializadas, 12 apresentaram redução dos níveis de salário real em 2008. Entre elas, estão a Alemanha, a Austrália, os Estados Unidos, a Itália, o Japão, o México e a República da Coreia.
         Regiões como a Europa Oriental e a Ásia Central também tiveram grandes quedas na média salarial. Contudo, a América Latina e a Ásia mostraram crescimento salarial durante a crise financeira.
         Entre os países do G20 (grupo das 20 maiores economias mundiais) que apresentaram as maiores quedas, estão a Rússia, o México e a Inglaterra.
         O relatório da OIT aponta como uma das consequências da baixa dos salários em todo o mundo a redução no consumo e da demanda das famílias. Em alguns países, a queda dos salários foi compensada pela baixa das taxas de juros e pelo aumento excessivo do crédito.
         De acordo com o estudo, o Brasil foi uma exceção, por ter registrado aumento dos níveis salariais em 2008 e em 2009, período que o país foi também atingido pela crise financeira internacional. Em 2008, os salários subiram 3,4% e, no ano seguinte, 3,3%, o que mostra estabilidade. No Brasil, o salário médio, em 2009, estava em R$ 700. Os salários da população de baixa renda equivaliam a um terço desse valor.
         De acordo com Janine, dois pontos contribuíram para o Brasil não passar por uma queda tão grande quanto a de outros países. “A crise econômica afetou o Brasil de maneira breve e não teve tanto impacto no mercado de trabalho. O governo decidiu manter sua política de salário mínimo, o que ajudou a manter os salários médios”, afirmou.
         A expectativa para os próximos anos é de que ainda levará algum tempo para que os salários voltem a subir em todo o mundo. “Os efeitos da crise financeira vão continuar afetando os trabalhadores, principalmente nos países avançados, como os Estados Unidos e os países da Europa, onde, mesmo havendo recuperação do PIB [Produto Interno Bruto], essa recuperação não tem sido tão forte”, disse Janine.


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Nações em desenvolvimento receberão até US$ 100 bi ao ano em 2020, diz texto final da cúpula de Cancun

        A conferência do clima de Cancún terminou às 3h30 da madrugada de sábado (11/12) com bate-boca diplomático, aplausos e um fundo bilionário, os Acordos de Cancún, que resolvem as pendências deixadas há um ano pela reunião de Copenhague.
        Porém, a proteção efetiva da atmosfera, com um acordo internacional com peso de lei, ficou para o futuro.
        O mundo pós-Cancún continua no rumo de chegar a 2020 emitindo até 9 bilhões de toneladas de CO2 a mais do que poderia, o que anularia as chances de manter o aquecimento global abaixo do nível seguro de 2ºC.
        Entre as principais decisões tomadas em Cancún está a criação do Fundo Verde do Clima, que financiará ações de adaptação e combate à mudança climática nos países em desenvolvimento.
        O fundo se beneficiará de duas promessas feitas em Copenhague: US$ 28 bilhões a curto prazo (parte do dinheiro já está sendo oferecido, e os repasses seguem até 2012) e um valor maior a longo prazo, que deve chegar a US$ 100 bilhões por ano em 2020.
        Também foi finalmente acordado um mecanismo para compensar os países tropicais pela redução do desmatamento, o Redd+.
        Como o desmatamento responde por cerca de 15% das emissões globais, o Redd+ deverá ser uma medida de mitigação do efeito estufa barata e eficaz.
        A única delegação que tentou barrar o Redd+ em Cancún foi a da Bolívia -o país de Evo Morales acredita que o mercado global de carbono estimula o capitalismo. O país bloqueou a reunião.
        A presidente da COP-16, a chanceler mexicana Patrícia Espinosa, resolveu a questão declarando o consenso por atingido. A Bolívia chamou a manobra de "atentado às regras da convenção".
        "A regra de consenso não significa unanimidade, nem que uma delegação possa impor se impor sobre a vontade das outras", disse Espinosa. Foi aplaudida.
        Espinosa não foi a única a ganhar palmas. Todd Stern, negociador dos EUA, também foi aplaudido. "Vamos fechar este acordo e colocar o mundo na direção de um futuro sustentável e de baixo carbono", disse.
        A venezuelana Claudia Salerno, cuja obstrução no ano passado levou Copenhague a pique, também mudou de atitude e apoiou o acordo -contra a aliada Bolívia.
        "Meu país está inundado e eu agora posso voltar para casa dizendo que tenho alguma coisa", afirmou.
        Muitas decisões importantes, porém, foram simplesmente postergadas.
        A principal diz respeito à sequência do Protocolo de Kyoto, devido à resistência de Japão, Rússia e Canadá. O acordo fala apenas em evitar um hiato na proteção ao clima após 2012, quando Kyoto expira, mas nenhum país fica obrigado a nada.
        Houve, portanto, alguma insatisfação com o texto final. A ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, disse que daria nota 7,5 aos Acordos de Cancún.

 

(Claudio Ângelo e Marcelo Leite, Folha de SP, 12/12)
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         Comunicado do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgado hoje (14) mostra poucos avanços na redução das disparidades entre 1995 e 2008.
         Os números mostram uma ligeira desconcentração da atividade econômica no Brasil, mas muito longe de ameaçar a composição estadual do Produto Interno Bruto (PIB) que o país tinha em 1995. Em 13 anos, a participação de São Paulo no PIB nacional caiu 4,2%, mas o estado ainda é responsável por 33,1% da produção de renda nacional. No outro extremo, Acre e Amapá aparecem com 0,2% de participação no PIB, e Rondônia com 0,1% - quase nenhuma evolução entre 1995 e 2008.
         De acordo com o relatório, “houve certa desconcentração da atividade econômica, mas ela foi incapaz de mudar substancialmente o perfil regional brasileiro".
         Na análise da participação no PIB por regiões, as diferenças também se mantêm. O PIB per capita na Região Sudeste, que era 39% maior que a média nacional em 1998, teve pouca alteração e em 2008 ainda era 33% maior que no resto do país. No Nordeste, o PIB per capita em 2008 estava 53% abaixo da média nacional, situação apenas cinco pontos percentuais melhor que em 1995.
         “No ritmo do período examinado, o PIB per capita do Nordeste só chegaria à marca de 75% do valor nacional em 2074”, estima o Ipea.
         A manutenção das desigualdades regionais se reflete principalmente na comparação de indicadores sociais. O Ipea cita, por exemplo, que a taxa de mortalidade infantil no Nordeste ainda é o dobro da registrada no estados da Região Sul e o acesso à educação também é desigual. “No Nordeste, uma em cada seis crianças entre 7 e 14 anos não sabe ler e escrever. No Sul, apenas uma em cada 28 está nessa situação”, compara o texto.

 

(Luana Lourenço, Agência Brasil )
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        Apenas uma em cada cinco pessoas no mundo conta com uma proteção social em patamares dignos e apropriados. As demais ou não têm qualquer tipo de cobertura ou ela é insuficiente para garantir os níveis mínimos, listados pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) na Convenção 102.
        Embora a fotografia do globo em termos de proteção social ainda seja desalentadora, é possível gastar relativamente pouco - entre 3% e 5% do Produto Interno Bruto de cada país - e tirar contingentes significativos da população da condição de desamparo total e miséria.
        "É possível estender a cobertura mesmo em países com dificuldades econômicas e fiscais", afirmou o especialista em seguridade social para as Américas da OIT, Helmut Schwarzer, convidado a participar da 1ª Conferência Mundial sobre o Desenvolvimento de Sistemas Universais de Seguridade Social, promovida pelo governo brasileiro.
        O Brasil, aliás, é frequentemente citado internacionalmente como um exemplo a ser seguido, porque tem destinado parcela significativa do seu orçamento a gastos sociais e conseguindo diminuir a pobreza.

Qualificação
        A coqueluche internacional é o Bolsa Família. Assim como o Oportunidades, do México, o programa brasileiro é focado em famílias pobres, com crianças. Mediante a transferência monetária, mais a obrigatoriedade dos pequenos estarem na escola e a assistência à saúde - combinadas ainda com outras políticas públicas, como a qualificação profissional - tenta-se romper a transmissão da pobreza entre as gerações.
        O programa brasileiro já atinge 13 milhões de famílias. A meta da presidente eleita, Dilma Rousseff, é eliminar a pobreza extrema no país até 2014.
        "É preciso primeiro pensar na universalização da cobertura para, depois, se introduzir melhorias nos programas", defendeu Schwarzer.
        Desde a crise financeira internacional de 2008, as Nações Unidas vêm defendendo a criação de um piso de proteção social, como ferramenta que os países podem utilizar para garantir um patamar mínimo de proteção para seus cidadãos. Além de evitar o aprofundamento da pobreza, a saída da crise foi mais rápida e menos traumática nos países que contam com esse tipo de benefício.

Programas
        Pela Convenção 102 da OIT a cobertura social completa abrange oito programas distintos, como acesso universal à saúde, pensão por morte, salário-maternidade e família, proteção contra o desemprego, além de aposentadoria por idade, por invalidez e por acidente de trabalho.
        Na América Latina e no Caribe, apenas cinco países, entre eles o Brasil e a Argentina, possuem os oito ramos da seguridade. A maioria conta com entre seis e sete programas e o Haiti, o mais pobre de todos, com apenas quatro. Os benefícios que geralmente faltam são o salário-família e o seguro-desemprego.
        Mesmo os países que contam com todos os programas estão longe de protegerem toda a população- alvo. O seguro-desemprego, por exemplo, geralmente é voltado ao mercado formal, o que deixa trabalhadores pobres de baixa renda desprotegidos.
        A saúde pública básica, acessível a todos, já é uma realidade em muitas nações, mas, muitas vezes, a sua qualidade deixa a desejar. A pensão assistencial para os idosos, por exemplo, só recentemente foi universalizada na Bolívia.
        No retrato das boas práticas em seguridade social, a melhor nota fica para os países ricos, membros da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que possuem um contingente expressivo de suas populações protegidas.
        Nos países da América Latina e do Caribe, a proteção social gira em torno de 1/3 da população. Na África e nos países do sul da Ásia, a situação é ainda mais crítica.

 

(Fonte: Admite-se.com.br)
www.cntu.org.br

 

 

Nos telegramas, é claro o entusiasmo com o pré-sal, chamado pela ex-cônsul Elizabeth Lee Martinez de "nova excitante descoberta" e "oportunidade de ouro" para as empresas americanas

       Telegramas sobre perspectivas de negócios no pré-sal, enviados ao governo americano por funcionários do Consulado dos EUA no Brasil, entre 2008 e 2009, revelam "uma aparente" estratégia da Petrobras de adiar os leilões da Agência Nacional do Petróleo (ANP) para assegurar a dianteira em futuras licitações de blocos do pré-sal e o receio de empresários americanos com eventuais atrasos na produção petrolífera dos novos campos. Segundo os executivos, isso poderia levar o governo a obrigá-los a vender sua produção à Petrobras para garantir a segurança energética do país. Os documentos, obtidos pelo GLOBO, mostram ainda que as descobertas de grandes reservas nessa região trariam ganhos políticos para a então provável candidata do governo à presidência, Dilma Rousseff. 
       "Se Dilma Rousseff de fato concorrer para a presidência em 2010, é possível que esses desenvolvimentos de (campos) de petróleo e gás, combinados com os projetos de infraestrutura planejados em larga escala pelo governo, estimulem sua candidatura", disse a então cônsul-geral dos EUA no Brasil, Elizabeth Lee Martinez, em documento escrito após a revelação, pelo diretor-geral da ANP, Haroldo Lima, de que a área de Carioca, no pré-sal da Bacia de Santos, tinha mais de 33 bilhões de barris de petróleo. A afirmação, feita em abril de 2008, causou desconforto entre executivos da Petrobras e na própria ANP na época, pois as estimativas não haviam sido certificadas. 
       No mesmo telegrama, a cônsul afirma que "aparentemente, a estratégia de Gabrielli (José Sergio Gabrielli, presidente da Petrobras) é de protelar os leilões (da ANP) por alguns anos, de modo que a Petrobras possa estar mais bem posicionada financeiramente e, assim, oferecer lances mais competitivos pelos primeiros blocos (do pré-sal a serem licitados)". Logo após o anúncio da descoberta de Tupi, a primeira área do pré-sal a ter estimativas de reservas (cinco a oito bilhões de barris) divulgadas, em novembro de 2007, o governo retirou 41 blocos localizados no pré-sal ou em seu entorno que seriam licitados naquele mês. 
"PMDB precisa de própria empresa" 
       Dilma, que na época era Ministra de Minas e Energia e ocupava uma cadeira no Conselho de Administração da Petrobras, é apontada no telegrama como uma forte aliada da estatal em seu objetivo de desenvolver rapidamente a área de Tupi, num momento em que havia escassez de geólogos e equipamentos, o que estaria levando a Petrobras "a enfrentar sérios constrangimentos de recursos" para desenvolver Tupi. Daí a estratégia da estatal de adiamento dos leilões. 
       A cônsul justifica o apoio de Dilma à "visão do governo de que as novas descobertas no pré-sal são uma boa fonte de futuro capital político". Frisa também que o governo se preparava para lançar uma campanha publicitária de US$50 milhões para espalhar notícias sobre as descobertas, e que o aumento das reservas de petróleo brasileiras terá resultados positivos para a política regional, ao "impactar o papel da Venezuela na região". 
       Elizabeth Lee Martinez também ressalta em seus telegramas as preocupações de empresários americanos quanto ao futuro do pré-sal. "McCaslin (então presidente da Anadarko, Kurt McCaslin) está preocupado com a possibilidade de escassez de petróleo causada por atrasos na produção, que podem levar a uma instabilidade no governo e à consequente mudança na lei, requerendo que empresas estrangeiras vendam (petróleo) à Petrobras", em nome da segurança energética brasileira, diz um documento referente a encontro realizado no Rio, em 6 de junho de 2008, entre o ex-embaixador Clifford Sobel e executivos de cinco petrolíferas americanas. Além dele, participaram do evento representantes de Exxon Mobil, Chevron, Devon e Hess. 
       Os bastidores sobre a mudança no marco regulatório para o pré-sal também são alvo dos relatos. Em um dos telegramas, o cônsul-geral dos EUA, Dennis Hearne, que assumiu o posto em meados de 2009, diz que atores da indústria do petróleo "têm uma visão uniforme de que as reformas são politicagem pré-eleitoral da administração Lula". A maior preocupação das petrolíferas americanas, conforme outro documento escrito no fim de 2009, é com a possibilidade de a Petrobras ser a única operadora do pré-sal. 
       Esse receio é manifestado pela diretora de relações governamentais da Chevron no Brasil, Patrícia Pradal, que fala na condição de representante do Instituto Brasileiro de Petróleo (IBP), que reúne empresas do setor. Ela diz que o assessor especial da Presidência para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, e o ministro da Secretaria de Comunicação Social da Presidência, Franklin Martins, estão por trás da estratégia do governo e expressa respeito por eles, salienta Hearne. "Eles são profissionais e nós, amadores", diz Patrícia, segundo o relato. 
       A executiva afirma ainda que a criação da Petrosal - nova estatal que vai fiscalizar a atividade das companhias no pré-sal - teve motivação política. "O PMDB precisa ter sua própria empresa", afirma, segundo o telegrama. Patrícia também se ressente de que o então candidato da oposição, José Serra, não tenha expressado "um senso de urgência para a questão". O cônsul confirma a percepção da executiva ao escrever que fontes do Congresso disseram que Serra recomendara ao PSDB e outros partidos da oposição que fizessem emendas aos projetos, mas não se opusessem a eles. 
       Diante desse cenário, a estratégia das petrolíferas para barrar a aprovação do novo marco do pré-sal seria fazer lobby no Senado por meio do IBP e de outras entidades como Organização Nacional da Indústria do Petróleo (Onip) e Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Embora, na sua avaliação, Hearn tenha escrito que a mudança na Lei do Petróleo pode afetar o interesse das companhias americanas, em diversos outros telegramas as empresas reafirmam sua intenção de permanecer no Brasil, mesmo com a alteração nas regras. 
       Nos telegramas, é claro o entusiasmo dos americanos com o pré-sal, chamado pela ex-cônsul Elizabeth Lee Martinez de "nova excitante descoberta" e "oportunidade de ouro" para as empresas americanas oferecerem tecnologia para a exploração.

 

(Danielle Nogueira, Agencia OGlobo)
www.fne.org.br

 

 

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