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Definir prioridades ao desenvolvimento e melhorar a educação

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Rita Casaro

 

Foto VahanVahan Agopyan: agronegócio, transição energética e saúde são  exemplos de áreas estratégicas para o Brasil. Foto: DivulgaçãoÀ frente da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação do Estado de São Paulo, Vahan Agopyan, tem como principal tarefa criar sinergia entre as instituições autônomas coligadas a ela, incluindo três universidades públicas (Universidade de São Paulo – USP; Universidade Estadual de Campinas – Unicamp; e Universidade Estadual Paulista – Unesp). Além dessas, integram o seleto grupo a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), o Centro Paula Souza, uma universidade virtual (Univesp) e mais duas prestigiadas escolas de medicina, em Ribeirão Preto e Bauru.

 

Segundo ele, o resultado desse esforço tem sido uma ampla produção de conhecimento, com o apoio à inovação em empresas de diferentes portes, desde startups a corporações estabelecidas. Ele reconhece, contudo, que ainda é preciso avançar para transformar a pesquisa em riqueza e benefícios à sociedade.  

 

Pensando no desenvolvimento nacional, Agopyan defende que se elejam áreas nas quais seja possível ter excelência. “Nós temos que, como brasileiros, definir prioridades e investir, e não pode ter 50 prioridades” afirma. Entre os setores estratégicos, ele cita o agronegócio, a transição energética e a área da saúde, especialmente focando nas demandas específicas do Brasil e da região.

 

Cumprir esse destino, alerta o Secretário, que foi reitor da Universidade de São Paulo e diretor da Escola Politécnica, exigirá um salto significativo na educação. “É o maior problema do País”, assevera.  O esforço, aponta, precisa ter início já no ensino fundamental, com ênfase no ensino das ciências exatas.

 

Para ele, a precariedade nessa formação está na raiz do problema hoje observado nos cursos de engenharia: baixa procura e alta evasão. “O jovem começa a fazer engenharia e percebe que os conhecimentos de física e de matemática são tão primários que ele não vai conseguir jamais aprender cálculo, geometria e alguma outra coisa”, lamenta.

 

Nesta entrevista ao Jornal do Engenheiro, Agopyan fala ainda sobre o título de professor Emérito da USP que lhe foi outorgado em junho último, tornando-o o primeiro engenheiro a receber tal distinção.

 

Graduado em Engenharia Civil e mestre em Engenharia Urbana e de Edificações pela Poli/USP e PhD pelo King’s College London, o Secretário é também membro fundador e atual presidente do Conselho Brasileiro de Construção Sustentável e presidiu o Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT).

 

Parceiro histórico do SEESP, em reconhecimento à sua contribuição à engenharia e ao desenvolvimento, recebeu da entidade o Prêmio Personalidade da Tecnologia na categoria "Valorização Profissional", em 2008, e foi agraciado com a láurea Personalidade Profissional em Engenharia pela Confederação Nacional dos Trabalhadores Liberais Universitários Regulamentados (CNTU), em 2019.  

 

Confira a entrevista a seguir e no vídeo ao final.

 

Quais os principais desafios em ciência, tecnologia e inovação em São Paulo e que ações estão em andamento para fazer frente a eles?

A secretaria foi desmembrada pelo governador Tarcísio [de Freitas], porque ele quer dar uma visão melhor sobre ciência e tecnologia no nosso Estado e mostrar a sua importância. Então, temos um secretário preocupado exclusivamente com esse assunto. Mas é uma secretaria atípica, porque as coligadas a ela são instituições muito importantes:  as três universidades estaduais paulistas (USP, Unesp e Unicamp); a Fundação de Amparo à Pesquisa (Fapesp), que é a instituição de fomento científico mais estável do nosso país; a maior universidade virtual, a Univesp, que hoje está com quase 90 mil alunos; o Centro Paula Souza, que é o maior centro de formação técnica e tecnológica do País, com cerca de 220 mil alunos de escolas técnicas e quase 80 mil alunos de faculdades de tecnologia. Temos mais duas faculdades de medicina isoladas. Em suma, são instituições que são autônomas. E, particularmente, as três universidades e a Fapesp têm autonomia financeira e administrativa. Então, a grande tarefa da secretaria é buscar a sinergia: não interfere nas ações de nenhuma dessas coligadas, mas contribui tentando interligar todas as ações.

 

Quanto recurso é destinado o setor e que resultados estão sendo obtidos?

Nós investimos bastante em ciência, tecnologia, inovação e ensino superior. Praticamente, 7% do orçamento do Estado vai para esta pasta. Então, isso é muito importante. E, cientificamente falando, São Paulo produz muito. Praticamente metade das publicações científicas do nosso país são do Estado de São Paulo. Agora, um ponto que eu faço JE594 EntrevistaDestaquesquestão de frisar é que não é somente em quantidade que nós estamos nos destacando. Pelo menos as publicações das três universidades estaduais paulistas têm um índice de impacto acima da média mundial. Portanto, nós temos produtos em grande quantidade e com boa qualidade. Porém, o Governador Tarcísio levantou – e eu realmente concordo com ele – que nós não estamos ainda sabendo transformar todo esse conhecimento desenvolvido e aprimorado suficientemente em benefício para a sociedade. São Paulo se destaca; na área de centros de inovação, é uma das 100 melhores regiões do mundo, a única da América Latina, entre os primeiros. Está entre os 30 melhores locais do mundo para startups. Então, nós temos capacidade de aumentar muito mais essa parte de inovação. Dentro do sistema paulista, já temos quase 80 associadas para que tenhamos ambientes bons em todo o Estado. [Há] centros de inovação em todas as regiões administrativas. E, ao mesmo tempo, estamos preocupados em como incentivar e dar suporte a essas iniciativas.

  

Como é dado o incentivo à inovação?

À empresa que está desenvolvendo o conhecimento (pode ser uma empresa já grande, bem estabelecida, até multinacional que tenha atividades no nosso estado), por meio da Fapesp, nós financiamos a pesquisa. Inclusive, para startups, [essa é] a única linha em que o dinheiro vai direto para a empresa. Sem retorno; não é empréstimo, é realmente apoio. Quando a empresa não é uma startup, já é uma empresa maior, você pode ter acordos em que a Fapesp paga 50% – uma parte do risco da pesquisa, o Estado assume. Depois, quando a pesquisa está desenvolvida, as empresas já estabelecidas conseguem financiamento via Finep (Financiadora de Estudos e Projetos), BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). Mas nós temos problema com as startups. Então, desde novembro do ano passado, a Agência Desenvolve São Paulo, que pertence à Secretaria de Desenvolvimento Econômico, criou uma linha de financiamento especial para essas empresas inovadoras. Não são apenas juros baixos, mas exigências menores. Há um fundo garantidor que permite exigências aceitáveis, cabíveis, viáveis para elas. E mais ainda, como nem todos têm conhecimento para lidar com recursos financeiros, por um convênio com o Sebrae, a gente procura dar consultoria, orientação, porque não quer que esse financiamento seja um problema daqui a algum tempo, e sim que seja, de fato, um apoio para que a empresa cresça. E, por fim, para as startups que estão mais bem estabelecidas, que têm competência, nós estamos buscando a internacionalização, porque a gente quer que elas se tornem internacionalmente competitivas e continuem aqui no Brasil. Nós atraímos centros de inovação do exterior, seja laboratório, centro de desenvolvimento ou instituições que abrem filiais aqui, como o caso de Pasteur, CNRS, mas também levamos as startups para o exterior. Nesse caso, nós fazemos uma chamada, selecionamos cem, damos um treinamento. Entre as que tiverem melhores aptidões, a gente escolhe dez ou 20 para ir a dois eventos internacionais. Este ano já foi um grupo de dez, que teve um retorno fantástico, ao London Tech Week, em junho. Com o apoio da USP, nós conseguimos também mandar mais dez startups para Paris, no VivaTech, também em junho. E em novembro, dez startups vão para o Web Summit, em Lisboa. Esse é o quadro resumido.

 

O senhor avalia então que não há problema de restrição orçamentária para o setor em São Paulo?  A quanto corresponde os 7% do orçamento?

Dá R$ 23 bilhões, mas quando se fala em desenvolvimento e pesquisa os recursos sempre são necessários. Quando estamos falando em bilhões de reais, no exterior funciona com bilhões de euros, de libras ou de dólares. Por isso, é muito importante nós termos parcerias com as empresas. Só o governo, [mesmo com] 7% do orçamento – e eu não conheço nenhuma outra província de nenhum país, nem mesmo a Califórnia, que invista tanto percentualmente quanto São Paulo –, continua sendo restrito, precisamos de mais apoio. Quando a gente pega grandes empresas fazendo parceria com a Fapesp, se o resultado for positivo, para cada R$ 1 (do recurso público), às vezes a empresa coloca R$ 5. Com alguns desses convênios com grandes empresas, nós conseguimos trazer mais recursos para termos mais pesquisa aprofundada. E pesquisa consome muito dinheiro.


E exige testar e experimentar, arriscar o investimento.

JE594 EntrevistaDestaques2Esse é um ponto importante. Já falei, inclusive, em seminários com empresários: você não compra o conhecimento. “Ah, vou comprar uma patente.” Você compra a versão N-1. Não é a última versão. Às vezes, nem a penúltima, mas a antepenúltima. Comprando a penúltima ou antepenúltima versão, você precisa ter a capacidade e a competência de analisar e ver se você consegue desenvolver alguma coisa diferente. Se ficarmos sempre usando patentes do exterior, o Brasil vai ser um grande fornecedor de mão de obra barata, energia e, às vezes, terras baratas etc.. Não vamos tentar abarcar o mundo, mas [temos que ser] competentes no que sabemos fazer para adicionar valor aos nossos produtos e, com isso, melhorar a qualidade de vida da população. Não estou falando em questões estratégicas, como energia nuclear, aí não tem jeito: ou você desenvolve aqui ou não desenvolve. Nós sabemos lidar com energia nuclear porque investimos durante 30, 40 anos com o apoio da Marinha em desenvolvimento. Mas estou falando em geral, qualquer coisa, um liquidificador. O que você vai ter aqui é uma versão N-1. Então, vamos aprender a fazer. O Brasil já faz isso em várias áreas e vamos ter que incentivar que faça mais. Em inteligência artificial, por exemplo, não vamos conseguir competir com China e Estados Unidos. Porém, por exemplo, na área agrícola, podemos ter aquela parcela de conhecimento, nós podemos ser os melhores aplicadores de inteligência artificial. Imbatíveis! E isso nos destaca. E é verdade, quer dizer, nós somos grandes atores no agronegócio porque nós desenvolvemos no Brasil esse conhecimento. Nós sabemos produzir, nós temos capacidade de competir com qualquer país do mundo nesse setor. É o mérito de ciência, tecnologia e inovação desenvolvida no agronegócio.

 

O senhor cita o agronegócio, que é realmente uma potência, mas o Brasil ainda tem a dificuldade de ser um exportador de commodities e importador de industrializados. Mesmo nessa área de excelência, como ter mais valor agregado? E, na sua avaliação, quais são os setores que devem ser priorizados, pensando nesse salto de desenvolvimento socioeconômico que o Brasil precisa dar?

Você pegou um ponto fundamental. Priorização, definição de estratégias. Agora, um parêntese: realmente, nós exportamos muito commodities, mas são commodities com grande tecnologia. E isso irrita nossos concorrentes, porque a gente consegue custos que eles não têm. E são empregos nobres. Hoje, o agricultor está em um equipamento com ar-condicionado e um computador, trabalhando, coletando, selecionando. Em agronegócio, nós produzimos e somos imbatíveis porque temos a tecnologia muito sofisticada. Então, acho que na área agrícola podemos avançar ainda mais na informatização. O Estado de São Paulo, através da Fapesp, e com apoio da Embrapa e da Unicamp, está desenvolvendo estudos importantíssimos para a tecnologia de informação chegar ao pequeno produtor. Na transição energética, nós somos atores importantes. Por exemplo, produzir hidrogênio a partir de etanol é uma peculiaridade que o Brasil consegue. Se conseguirmos ter combustíveis mais sustentáveis disponíveis, nós podemos dominar uma parcela muito grande da produção. De novo, é commodity, mas com altíssima tecnologia. Nós temos também doenças muito típicas, e sobre isso temos que nos debruçar e trabalhar. Nós é que vamos ter que fazer a produção de fitoterápicos, de métodos de detecção de doenças senão vamos cair numa cilada de não poder oferecer à nossa população essas coisas. Alguns tipos de tratamentos que custam milhões de reais, se nós tivermos uma versão nossa, isso diminui 100 vezes. Então, esse é um outro setor muito importante. E não é só o Brasil, você pega uma faixa muito grande de população que tem na Terra com esses sistemas idênticos. A biotecnologia e nanobiotecnologia são áreas riquíssimas, importantíssimas. Nós temos que, como brasileiros, definir prioridades e investir, e não pode ter 50 prioridades. A Alemanha definiu áreas de excelência que ela queria ter, e está financiando dez instituições para desenvolvê-las. Não é uma invenção aqui do Vahan, é realidade que se faz no exterior. O país é rico, continua investindo em pesquisa, mas define áreas de excelência e financia firmemente para ter resultados e se tornar internacionalmente competitivos. Nós, aqui no Estado de São Paulo, estamos realmente atuando muito na área da transição energética, energias alternativas. Na parte da saúde, investimos pesadamente. Nós temos o Instituto Butantan, Instituto Agronômico, que faz uma interface saúde-agronomia. Mas, no Brasil, tem também Fiocruz, Embrapa. Minha sugestão para os candidatos a presidente no ano que vem será: “por favor, definam prioridades”. Não vai poder agradar todo mundo, mas vai conseguir dar um passo maior para o nosso país.

 

Outra questão é sobre a mão de obra que, por natureza, está ligada a esse projeto. Hoje, enfrenta-se um problema duplo de baixa procura e alta evasão nos cursos de engenharia. A que o senhor atribui esse fenômeno e que medidas podem ser eficazes para combatê-lo, garantindo a formação de mais e melhores engenheiros?

O maior problema que nós temos no nosso país, e isso tem que ficar claro, é a educação. No século XXI, nós não admitimos mais pessoas analfabetas funcionais. E um terço dos profissionais brasileiros são analfabetos funcionais, inclusive com o ensino médio completo. Isso é muito preocupante. E não podemos esquecer que a educação não é só o conhecimento adquirido, é todo o raciocínio que a criança desenvolve para compreender as coisas. Então, eu peço desculpas aos meus amigos da área de educação, mas os jovens precisam, sim, aprender lógica matemática; aprender e compreender os teoremas e o raciocínio para resolver os teoremas; aprender gramática, porque a língua é muito JE594 EntrevistaDestaques3rica, é fundamental para o raciocínio ser montado. Não é bitola, é aprender a lógica. Nossos jovens chegam à universidade, mesmo nas boas, e não estão preparados para aprender. Isso é ensino fundamental I, II e médio. Isso tem que ser alertado. Diminuiu o número de candidatos para a engenharia. Na Poli, chegamos a ter 30, 40 candidatos por vaga, hoje, oito ou dez já está sendo considerado bom. Por quê? Porque o jovem começa a fazer engenharia e percebe que os conhecimentos de física e de matemática são tão primários que ele não vai conseguir jamais aprender cálculo, geometria e alguma outra coisa. Isso é importante para a engenharia? Vou ser honesto: nunca na minha vida profissional eu tive que calcular uma integral dupla. Porém, esse raciocínio é o que nós aplicamos na nossa profissão. A engenharia não é ciência exata, mas nós utilizamos a ciência exata de uma forma muito intensa. Uma coisa que o saudoso Olavo Setúbal me falou: “o engenheiro é o único profissional que sabe tomar decisões na incerteza, avaliando o risco”. Não existe uma disciplina na faculdade de engenharia para avaliação da incerteza, mas você acaba assumindo riscos porque a natureza [da profissão] é muito complexa. Desde fazer um liquidificador até construir uma barragem, você assume riscos. Você tem a capacidade de calcular esses riscos e avaliar se podem ser assumidos ou não. Para isso, tem que ter um raciocínio matemático, lógico bem estabelecido. Não estou nem discutindo os métodos adotados, mas tem que sair do Fundamental II com conhecimento suficiente.

 

No caso dos engenheiros, além dessa sólida formação desde o ensino básico, hoje também se exigem outras competências?

Particularmente para os engenheiros, ficou muito mais complicado. Sou da geração na qual engenheiro não falava, não discutia, fazia somente memorial de cálculo. Você entregava o projeto, o memorial de cálculo, a obra, o memorial descritivo. Só. Hoje, o engenheiro tem que discutir, apresentar e defender a sua ideia de uma maneira clara para outros profissionais. Tem que trabalhar num ambiente multidisciplinar. [Por exemplo,] não dá para desenvolver submarino nuclear sem psicólogos, porque eles vão nos dizer como a gente consegue botar 30, 40 pessoas juntas num ambiente bem pequeno durante seis meses. No século XXI, o engenheiro é uma posição mais complicada do que no fim do século XX. Então, esse profissional vai ter que ser preparado, mas, para isso, tem que ter pessoas jovens que já vêm para a faculdade com o básico necessário. Com raciocínio lógico, não é decorar. Nós não estamos conseguindo, como país, enfrentar essa realidade. Eu estou dizendo como país porque eu vejo, mesmo na América Latina, experiência de sucesso. Então, sim, é possível, não precisa ser um país rico para oferecer um ensino fundamental bom. Só que, para isso, você vai precisar de condições, metodologias bem desenvolvidas e bem discutidas. Nós moramos num país continental, então, tenho certeza de que a metodologia que se aplica em Porto Alegre não deve ser a mesma que em Belém do Pará. E temos que entender que precisamos cada vez mais de profissionais, na engenharia e nas outras [áreas] também. Na engenharia, nós estamos sentindo isso na pele porque, de fato, não é que o aluno tem medo de matemática, ele não entende o que é matemática, então ele acha uma coisa absurda conseguir trabalhar com geometria, por exemplo, que os gregos utilizavam para fazer as construções deles há quase três milênios. Então, vamos ter que lutar muito. Eu torço para que os nossos mandatários tenham isso bem claro. E tem que prestigiar o professor. Não estou dizendo pagar salários altíssimos, mas o professor tem que ser a pessoa mais prestigiada, respeitada. Então, tem que ter salários dignos para poder ter uma vida confortável para poder ensinar. Isso também é fundamental. A formação de professores tem que levar em conta a pedagogia, que é o cerne, não é a política de educação. Há 40 anos, nas escolas públicas, a criança era alfabetizada em seis meses ou no máximo em um ano, sem recursos além de um quadro negro e giz branco, porque nós formávamos professores que sabiam alfabetizar, tinham didática para motivar os alunos. Então, o professor é o elemento fundamental.

 

Falando em grandes professores, recentemente o senhor recebeu o título de Professor Emérito da Universidade de São Paulo, sendo o primeiro engenheiro a se distinguir com a honraria. O que esse reconhecimento representa para a sua trajetória e também para a valorização da engenharia no contexto acadêmico?

JE594 EntrevistaDestaques4Eu diria que a realização do sonho de todos os professores, porque eu fui o 22º professor emérito dos 90 anos da USP. Então, é realmente uma distinção. E até hoje estou muito emocionado com isso, é uma generosidade muito grande dos meus amigos. Eu acredito que essa é uma homenagem à minha geração de professores, que participamos ativamente de uma mudança radical da instituição, em que a Universidade de São Paulo se estabilizou e se consolidou como uma universidade de pesquisa, que depois se tornou multidisciplinar e internacional. Hoje, a universidade é uma instituição internacionalmente conhecida e respeitada. Eu estou muito surpreso e tenho certeza de que havia antecessores meus, engenheiros, que mereciam essa distinção e não receberam, e acredito que isso é porque não se compreendia bem a engenharia nas universidades e, particularmente, na Universidade de São Paulo. Então, a engenharia hoje, com essa minha nomeação, é aceita no meio acadêmico como uma das áreas básicas de conhecimento. Eu falo isso porque na torre que tem na Praça Central do campus principal da USP, são [citadas] várias profissões, e não aparece a engenharia. Então, é uma consagração. É uma satisfação muito grande. Os meus colegas da Congregação da Politécnica que me indicaram foram muito generosos. E o Conselho Universitário foi muito generoso, aceitando o meu nome e me outorgando esse título.

 

A partir da sua experiência como profissional e professor, o que o senhor diria aos jovens que desejam trilhar o caminho da engenharia?

Eu sou suspeito para falar porque acredito que a profissão de engenheiro é privilegiada. Nós, pela nossa formação, sabemos muito bem matemática para podermos tomar decisões. Normalmente, quem é formado pelas melhores escolas de engenharia no mundo todo, é uma pessoa que trabalha muito, que estuda, que se esforça, porque as escolas de engenharia são muito demandantes. Em outras áreas, às vezes, o difícil é o vestibular. Nas escolas de engenharia, o difícil é se formar. Essa formação nos dá muita flexibilidade. A engenharia poderia ser considerada aquilo que, no fim do século passado, começaram a chamar de “carreira inteligente”, em que o profissional acaba dosando a sua carreira. Você pode mudar e redefinir sua carreira conforme a sua vontade, e a sua progressão também é conforme a sua vontade. Então, eu recomendo. Mesmo que você não goste de matemática, se você estudar, você vai gostar, porque é uma ciência abstrata, porém muito interessante, desenvolvida pelo homem. Faça engenharia e depois, profissionalmente, você vai vendo o que é melhor para você. A engenharia é muito enriquecedora, porque é uma profissão de desenvolvimento. Você se sente realizado porque o resultado do seu trabalho é o desenvolvimento de alguma coisa. É uma profissão que te dá uma formação muito ampla e é muito empolgante. Em todos os países desenvolvidos, a engenharia é a profissão que tem mais vagas nas universidades. Isso é importante.

 

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