Especialistas afirmam que as escolas de engenharia precisam mudar os rumos de seus projetos pedagógicos, que se deparam com questões como repetência e evasão. A má qualidade do ensino básico e a falta de investimentos na educação são alguns dos problemas apontados como responsáveis pelo fato de o país ter hoje poucos engenheiros formados, dos quais muitos não exercem a profissão.
De acordo com o professor Dante Barone, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), muitos estudantes terminam o segundo grau com formação deficitária na área de exatas. "A razão para isso não é apenas a dificuldade natural das matérias, mas um problema sério de formação de professores e de ensino. Tal fato afeta o curso superior de engenharia por duas vias: os estudantes podem não se interessar em cursar engenharia devido a essa deficiência, ou podem abandonar o curso devido às exigências de conhecimentos razoáveis em matemática e física, por exemplo, para que seja possível acompanhar as disciplinas do curso", analisa.
Para o engenheiro Alessandro Fernandes Moreira, vice-diretor da Escola de Engenharia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) a falha do ensino de engenharia no Brasil está nos professores formados no século XX, mas que trabalham com alunos do século XXI. "O professor do ensino superior precisa acordar para os novos desafios da educação. O ensino precisa ser modernizado para ser criativo e interessante para o aluno. Não se trata de simplesmente equipar uma sala com recursos de multimídia. É preciso saber aproveitar essa capacidade infinita de aprendizado do aluno em favor do que se intenciona ensinar", alerta.
Habilidades polivalentes
Alguns educadores acreditam que o ensino precisa ser ampliado para o desenvolvimento de habilidades polivalentes, tais como, capacidade de ouvir, persuadir, negociar, comprometer-se com a auto-aprendizagem, cooperar e ser ético, por exemplo. Esse conjunto de conhecimentos seria essencial para os engenheiros de agora e do futuro. "Não há dúvida que é exatamente o que se deseja. Mas eu pergunto: quem irá educar o professor para que ele consiga desenvolver nos alunos essas habilidades? Portanto, é urgente uma reforma na forma de ensinar. Preocupa-se muito hoje com recursos de mídia avançados, laboratórios modernos etc. Mas estamos esquecendo que nós professores precisamos estar mais atentos à forma que ensinamos esses jovens", afirma Moreira.
Um novo perfil - Um novo ensino de engenharia que inclua habilidades com outras áreas, como administração, filosofia, direito, ciências sociais, proporcionando uma visão menos restrita e mais interdisciplinar. Esse é o caminho para um futuro engenheiro mais equilibrado e em sintonia com as exigências do mercado de trabalho.
Segundo Barone, sem dúvida essas habilidades podem e devem ser inseridas na formação acadêmica do profissional de engenharia. "O perfil desejável é multifatorial. O profissional que se restringir apenas ao aprimoramento técnico não conseguirá corresponder totalmente às exigências que se tornarão cada vez mais complexas frente ao cenário de rápidas mudanças em que vivemos hoje. Criatividade e espírito inovador são características básicas para o profissional de hoje em qualquer área. O importante é que haja um equilíbrio entre os fatores, sem que o conhecimento técnico seja deixado de lado ou diminuído, e sem que se abdique por completo das ampliações de conhecimento nesses outros aspectos", opina o professor.
Flexibilidade na formação
O vice-diretor da Escola de Engenharia da UFMG concorda que é preciso buscar maior flexibilidade na formação do engenheiro para atender as demandas do mercado. "Hoje é fundamental a presença de um profissional que seja sensível às demandas sociais e ambientais, capaz de ser inovador e empreendedor em suas atividades", afirma Moreira.
Segundo ele, universidade e empresa têm funções específicas para a formação desse novo engenheiro. "O objetivo principal da universidade é potencializar as qualidades específicas do aluno que se forma. E as empresas, sem exceção, têm que estar preparadas para lapidar esse egresso de acordo com suas necessidades. Acredito que terão mais sucesso aquelas empresas que se preocuparem com essas questões antes mesmo do engenheiro ganhar o mercado", analisa.
Diálogo universidade-empresa - Para os educadores, os cursos de engenharia não estão falando o mesmo 'idioma' das empresas, formando profissionais que não buscam a inovação, nem o empreendedorismo. "Boa parte dos cursos ainda estão presos em uma estrutura curricular rígida que não abre espaços para o exercício da criatividade e que não permitem seus alunos a criarem um senso crítico em relação às demandas da sociedade", critica Moreira. Para ele, as escolas de engenharia precisam mudar os rumos de seus projetos pedagógicos.
Para o professor Barone deveria haver uma sinergia maior entre as universidades e as empresas desde a época dos estudos superiores. As dificuldades estão dos dois lados, segundo ele, o que dificulta uma formação de qualidade em engenharia, mais conectada com a realidade. "A aproximação dos professores universitários com empresas para desenvolver projetos de pesquisa aplicada e de inovação acaba sendo desestimulada, já que os parâmetros estritamente acadêmicos de valorização da pesquisa pontuam trabalhos em periódicos, muitas vezes dissociados de problemas práticos das empresas, mesmo que complexos", explica ele.
Fonte: Edna Ferreira/Jornal da Ciência
Nesta semana, a Comissão de Minas e Energia da Câmara dos Deputados aprovou o Projeto de Lei 4109/12, que institui o Programa Nacional de Conservação, Uso Racional e Reaproveitamento das Águas. De autoria do deputado Laércio Oliveira (PR-SE), o texto prevê que novas edificações residenciais e comerciais serão obrigadas a possuir sistema integrado de captação e reutilização de águas pluviais.
As águas das chuvas servirão para lavagem de roupas, vidros, calçadas, pisos, veículos e para a irrigação de hortas e jardins. Já as águas escoadas de tanques, pias, máquinas de lavar, bidês, chuveiros e banheiras, serão reaproveitadas no abastecimento de descargas de vasos sanitários ou mictórios. O projeto de lei também estende o reuso das águas para lagos artificiais, chafarizes de parques, praças e jardins.
Novos equipamentos
O programa prevê que novos equipamentos com medição computadorizada e telemétrica (tecnologia que permite a medição e comunicação de informações de interesse do operador ou do desenvolvedor de sistemas) substituirão os atuais hidrômetros convencionais.
Os banheiros modernos contarão com vasos sanitários, chuveiros e torneiras com controle do volume de água por aplicação. As construtoras que fizerem prédios com esse sistema podem se beneficiar de incentivos governamentais.
A proposta segue para análise das comissões de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável; e de Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania, em caráter conclusivo.
Fonte: Agência Câmara de Notícias
O Projeto Memória Ferroviária (1869 – 1971), coordenado por Eduardo Romero de Oliveira, professor da Unesp de Rosana, tem por objetivo realizar um inventário integral do patrimônio industrial em complexos ferroviários paulistas. Graças ao apoio da universidade, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e da Asociación de Universidades Grupo Montevideo (AUGM), entre os meses de agosto e setembro de 2013, o projeto receberá a visita de quatro pesquisadores de instituições argentinas e espanholas.
Na primeira quinzena de agosto estiveram no país as pesquisadoras Ana Cabanes Martins, responsável pela Biblioteca do Museo del Ferrocarril de Madrid (Espanha) e Dra. Monica Ferrari, docente da Universidade de Tucumán (Argentina), ambas com atividades de pesquisa e falas nos programas de Pós Graduação em Arquitetura e Urbanismo (Campus de Bauru) e História (Campus de Assis). Além destas atividades, são destaque também a participação da arquivista Ana Cabanes no I Seminário Internacional de Linguística e Tecnologia, organizado pela FATEC Jundiaí, e conferência da arquiteta Monica Ferrari na graduação em Turismo (Unesp), onde falou sobre sua experiência de pesquisas e possibilidades de uso relacionadas as Vías Verdes, programa da Fundación de los Ferrocarriles Españoles – FFE.
O arquiteto Enrique Larive, Universidade de Sevilha, acompanha as atividades desde o início, participando de visitas técnicas e refletindo em conjunto sobre as possibilidades metodológicas para o projeto. Em agosto será palestrante na Semana Acadêmica do Curso de Turismo da Unesp (campus de Rosana) e no mês seguinte oferecerá conferência aos alunos da Pós Graduação em Arquitetura e Urbanismo/FAAC da Unesp. Em 26 e 27 de setembro, na FAAC, em Bauru, juntamente com Julián Sobrino Simal (Universidad de Sevilla), professor titular e especialista em paisagem da Universidade de Sevilha, participará do 1 º Seminário sobre a Salvaguarda do Patrimônio Arquitetônico e Urbano promovido pelo Centro Internacional para a Conservação do Patrimônio (CICOP).
Estas visitas estão previstas em convênios previamente firmados com a Unesp e visam a aproximação entre as instituições brasileiras, espanholas e argentinas, a fim de gerar possibilidades de cooperação entre as partes.
Fonte: Assessoria de Comunicação e Imprensa da Unesp
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Ao que tudo indica, em 2014, o Porto de Santos terá 11 terminais arrendados em dez instalações, que já são exploradas e cujos contratos de arrendamento estão prestes a vencer ou com prazo vencido, além de uma que será implantada. Se tudo correr bem, o Porto, com certeza, continuará a bater recordes de movimentação de carga.
Mas a pergunta que se impõe é: com os investimentos privados esperados, o complexo santista estará em condições de se rivalizar com seus congêneres chineses, norte-americanos e europeus? A resposta só pode ser negativa porque, a curto e médio prazo, o Porto de Santos não deixará de depender de caminhões para que a carga chegue e saia dos terminais.
E, mesmo que o gargalo representado por acessos viários deficientes seja superado com obras de infraestrutura, não haverá futuro para esse tipo de modal, ao menos em condições majoritárias. É o que se conclui quando se vê de perto a eficiência de portos como os de Xangai e Hong Kong, na China, Houston, nos Estados Unidos, Roterdã, na Holanda, e Antuérpia, na Bélgica.
Dados da Confederação Nacional da Agricultura (CNA) e do Banco Mundial mostram que, enquanto o Porto de Santos, responsável por 26% do comércio exterior brasileiro, movimenta 8 milhões de contêineres por ano, Hong Kong opera 23,7 milhões e Xangai 29 milhões. Já o custo para embarcar um contêiner em Santos está ao redor de US$ 2.215, ao passo que em Hong Kong sai por US$ 575 e em Xangai por US$ 560. Com isso, o preço do produto que entra ou sai do País fica bem mais alto do que na China. Esse pormenor é fatal em termos de competitividade.
Diante disso, a única saída que resta é investir cada vez mais em ferrovias e hidrovias, até porque em Santos há um grande potencial hidroviário pouco explorado e que pode atender a todo tipo de mercadoria. É de lembrar que esse sistema hidroviário já era explorado, nas devidas proporções, ao tempo do Brasil colônia no século XVIII, quando a carga descia a Serra do Mar em lombo de muares e era levada em barcaças de Cubatão até o porto do Valongo, em Santos.
Ao mesmo tempo, não se pode deixar de investir em serviços de dragagem porque quem acompanha as tendências mundiais sabe que os navios continuarão a crescer em tamanho e calado, exigindo cada vez mais profundidade dos canais de navegação. É o que se vê, por exemplo, no Porto de Houston, no Texas, que permite o escoamento com rapidez e custos baixos por uma infraestrutura logística multimodal. Esse porto opera 150 mil barcaças por ano, acompanhadas por um sistema de monitoramento em tempo real que permite a visualização e agendamento das embarcações. Sem contar que dispõe de uma malha ferroviária que atinge, praticamente, todo o território dos Estados Unidos e alcança o Canadá e o México.
* por Milton Lourenço, presidente da Fiorde Logística Internacional e diretor do Sindicato dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística do Estado de São Paulo (Sindicomis) e da Associação Nacional dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística (ACTC)
As denúncias de corrupção, malversação do dinheiro público e obras superfaturadas se avolumam a cada dia no noticiário da imprensa e das redes sociais do país. Ao mesmo tempo, grande parte dos brasileiros continua vivendo com muitas dificuldades. Essa situação é sentida, entre outras, na precariedade dos transportes, da educação, da saúde e da segurança pública.
Hoje, há uma nova realidade que se desenvolveu a partir do momento em que o Movimento Passe Livre foi novamente para as ruas contra o aumento das tarifas dos transportes e desencadeou uma onda de protestos que mobilizou centenas de milhares de pessoas, principalmente jovens, nas mais diversas regiões do Brasil.
No caminho da plena cidadania, do desenvolvimento sustentável e da solução dos inúmeros problemas existentes, é fundamental avançar no controle da arrecadação e do investimento público. Para que haja esse controle é preciso conhecer o processo orçamentário brasileiro. É na Lei Orçamentária Anual (LOA) que estão registradas a origem das receitas e também das despesas dos órgãos públicos. A cobrança dos tributos é uma questão histórica e explosiva que tem sido causa ou pretexto de inúmeras revoluções e transformações sociais ao longo dos séculos.
A proposta do livro “Orçamento Público e Cidadania”, do economista Odilon Guedes, é despertar o interesse sobre o tema e procurar desmistificá-lo.
Dividido em quatro capítulos, traz, primeiramente, referências históricas e realça a importância do orçamento público e da questão tributária no Brasil, fazendo comparações com outros países.
O segundo capítulo aborda o processo orçamentário, a relação do Plano Diretor com o Plano Plurianual (PPA) e desse com a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e a Lei Orçamentária Anual (LOA).
O capítulo terceiro desenvolve os aspectos básicos da execução orçamentária, e o último versa sobre a transparência do orçamento.
Sobre o autor
Odilon Guedes é economista, mestre em Economia pela PUC-SP; professor do Departamento de Economia das Faculdades Oswaldo Cruz, dos cursos de Graduação e de Pós-Graduação “Gerente de Cidades”, da FAAP. Professor convidado da Escola de Artes, Ciências e Humanidades/USP e da FGV-SP. É membro do Conselho Regional de Economia – Corecon-SP. Foi presidente do Sindicato dos Economistas do Estado de São Paulo, vereador e subprefeito na cidade de São Paulo.
Imprensa - SEESP
As centrais sindicais vão decidir, no prazo de 60 dias, se insistem na proposta do fim do fator previdenciário ou apresentam uma proposta alternativa. A decisão foi tomada na reunião de quarta-feira (21/08), em Brasília, com os ministros Gilberto Carvalho, da Secretaria Geral da Presidência da República; Manoel Dias, do Trabalho, e Garibaldi Alves, da Previdência Social.
Os representantes das centrais sindicais avaliaram a reunião importante porque o governo admite discutir o tema. A opinião é do deputado Assis Melo (PCdoB-RS), que também é membro da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB). “Para nós, isso é de uma grande importância, por que é uma demanda antiga”, diz o parlamentar, destacando que o governo quer uma alternativa e as centrais querem o fim do fator. “Se estamos em mesa de negociação vamos ouvir as partes para chegar ao consenso”, diz ele.
As centrais sindicais voltam a se reunir com o governo daqui a 20 dias para tratar da mesma pauta, que inclui, além do fator previdenciário, a redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais e a Convenção 151, da OIT (Organização Internacional do Trabalho), que disciplina as relações de trabalho na administração pública e as greves dos servidores.
Fonte: Portal Vermelho
Em resposta aos efeitos prolongados da crise internacional, especialmente sobre a indústria, o governo iniciou mais uma rodada de desoneração tributária, agora voltada para a diminuição da contribuição previdenciária patronal de determinados setores, calculada sobre a folha de salários.
Foram várias medidas provisórias e leis tratando sobre essas desonerações. A Lei nº 12.844, de julho de 2013, é a mais recente. Essa lei resulta da conversão da MP 610/2012, que, ressalte-se, não tratava da desoneração das contribuições previdenciárias. Mas, durante a sua tramitação, foram aprovadas emendas incorporando benefícios a diversos segmentos. Em todo esse processo, o Congresso ampliou em muito as desonerações previdenciárias, sem nunca ter sequer estimado o impacto dessas expansões nas contas da previdência.
O Jornal Valor Econômico, em 8/4/13, informava que a desoneração de folha de pagamentos beneficiava 56 setores, responsáveis por uma receita bruta anual de aproximadamente R$ 1,9 trilhão no mercado interno, valor equivalente à metade do Produto Interno Bruto (PIB) do país, antes dos impostos.
Com a desoneração, as empresas trocam a contribuição patronal sobre a folha de pagamentos de 20% por uma contribuição de 1% ou 2% sobre o seu faturamento. Mais do que uma simples troca, os segmentos beneficiados deixam de pagar bilhões de reais para a Previdência Social.
E, para evitar que essa grande renúncia tributária representasse prejuízos ao financiamento da previdência, a lei determinou que o Tesouro fizesse repasses ao RGPS, para compensar todas as perdas.
Para além desse benefício direto às empresas, é preciso analisar as vantagens e desvantagens desse processo para os trabalhadores e para a Previdência Social, e superar os problemas havidos na implantação desse modelo.
Um desses problemas é o fato de o Tesouro não ressarcir a previdência pelas renúncias, conforme prevê a lei. Em 2012, o governo transferiu apenas R$ 1,7 bilhão à previdência social para cobrir uma renúncia que não foi inferior a R$ 4,2 bilhões. Estudos da ANFIP indicam que essa renúncia pode ter somado R$ 7 bilhões. Em 2013, quando mais setores são beneficiados pelas desonerações e as renúncias cresceram muito, o ritmo dos repasses não se alterou. Até maio, sequer a totalidade do valor devido de 2012 havia sido integralizada. E, descontadas essas parcelas atrasadas, os repasses relativos ao período de 2013, efetuados no primeiro semestre, são inferiores a 10% do total estimado, de mais de R$ 16 bilhões de renúncias, para o exercício.
Com repasses menores, decai a contribuição previdenciária, facilitando os discursos do déficit da previdência. Esses discursos são a principal arma para aqueles que exigem as reformas com corte de direitos dos trabalhadores.
Também pode ser caracterizado como negativo o fato de o governo ter concedido uma vantagem econômica tão expressiva para as empresas sem contrapartidas, como a diminuição da rotatividade ou da terceirização.
Mas, esse processo revelou pontos positivos importantes.
As empresas não aceitaram pagar de 1,5% a 2,5% sobre o seu faturamento, em substituição à contribuição previdenciária patronal de 20% sobre a folha. Exigiram uma redução para de 1% e 2%, respectivamente para as empresas industriais ou de serviços. Essa postura demonstra que o discurso sobre o alto custo das despesas com pagamento de salários e encargos é uma farsa. Se 20% sobre a folha é inferior a 1,5% do faturamento, isto significa que os custos do trabalho (salários e encargos) não representam sequer 7,5% do faturamento dessas empresas. E fica demonstrado que o preço do trabalho não é o problema que dificulta a vida dessas empresas.
E, com encargos previdenciários vinculados ao faturamento, fica mais difícil às empresas beneficiadas pela desoneração da folha invocar custos trabalhistas para justificar demissões em momentos de menor faturamento.
Outro aspecto importante é que a desoneração tornou menos interessante a terceirização nos setores beneficiados. Primeiro, porque as empresas de terceirização de mão de obra não foram incluídas nesse programa, portanto, continuam a pagar 20% sobre a folha. Segundo, porque uma indústria, por exemplo, pagará a contribuição previdenciária de 1% sobre o seu faturamento independentemente do número de trabalhadores contratados ou do quantitativo de terceirizados que trabalham para ela. Para a empresa com desoneração, terceirizar mão de obra não mais reduz a contribuição previdenciária patronal.
Mas, talvez, o ponto mais importante tenha sido implementar na previdência social um modelo que se demonstrou muito eficaz para a Seguridade Social: a pluralidade das fontes de financiamento. Criado na Constituição de 1988, permitiu à Seguridade valer-se de contribuições sociais cobradas das empresas sobre múltiplos fatores: o lucro, o faturamento e a folha de salários.
Antes da desoneração, a parcela majoritária do financiamento da previdência era a folha de salários. Nesse cenário, uma empresa que automatiza a sua produção ou demite, passa a pagar menos previdência. Essa redução causa problemas para a previdência manter o pagamento do conjunto dos benefícios. Sempre que isso ocorre, há um coro exigindo cortes nos benefícios, ampliação das carências e mais exigências para o trabalhador alcançar os direitos previdenciários.
Ainda hoje, um dos argumentos mais frequentes para novas reformas na previdência é a associação entre o número de trabalhadores ativos e o quantitativo de aposentados. Essa associação decorre de um modelo de financiamento previdenciário que estabelece ser a folha de pagamento das empresas sobre os seus trabalhadores (ativos) a principal fonte para a cobertura dos benefícios previdenciários.
Nesse momento, em que mundialmente as pessoas vivem mais, estamos repletos de exemplos a exigir idades maiores para a aposentadoria, mesmo quando as empresas estão sempre faturando e lucrando cada vez mais.
Quando as contribuições das empresas são transferidas para o faturamento, mesmo que ela aumente a automação, o pagamento à previdência se mantém, porque não é calculado sobre a folha, mas sobre as receitas da empresa.
O economista Edward Amadeo, ex-ministro do Trabalho do governo FHC, hoje sócio da Gávea Investimentos, um defensor emérito das reformas neoliberais, escreveu que a desoneração da folha de pessoal promovida pelo governo, que reduz os custos de contratação de mão de obra, pode produzir efeitos colaterais indesejados. Daí ele apresentar sérias restrições à medida. Disse o economista que o fim da contribuição sobre folha rompe com a lógica clássica do financiamento de aposentadorias que deve incidir sobre folha, porque cabe aos trabalhadores financiar suas aposentadorias. Para ele, as aposentadorias devem ser calculadas com base nos salários ao longo da vida e na expectativa de vida. Ao transferir esse financiamento para o faturamento das empresas, ficou mais difícil justificar, por exemplo, o aumento da idade mínima para aposentadoria ou da alíquota de contribuição. "É muito mais fácil, técnica e politicamente, proteger os demais gastos se houver um claro vínculo entre folha salarial e gastos da previdência", sustentou o economista (Valor Econômico 17/04/2013).
Outro aspecto importante da desoneração está relacionado à opção de algumas empresas em terceirizar parcela de sua produção, adquirindo partes do produto final de outras empresas nacionais ou estrangeiras. Nesse caso, a contribuição previdenciária, como está calculada em função do preço final do produto, incorpora o custo de todas essas aquisições. Num veículo, por exemplo, a opção por comprar o motor de outra empresa nacional ou mesmo importá-lo não diminuirá a contribuição da montadora à previdência, porque pagará como se todo o veículo estive sido produzido por ela, no país.
E, para complementar esse importante processo de tornar plural o modelo de financiamento da previdência social, é preciso determinar que alguns segmentos passem a pagar a contribuição previdenciária sobre o lucro. É o caso, por exemplo, dos segmentos rurais exportadores. Eles representam os segmentos rurais com maior capacidade econômica e, mesmo assim, estão dispensados da pagar a previdência. Como o setor rural paga a previdência em relação à comercialização da produção e a Constituição eximiu os exportadores dessa cobrança, sobre o seu faturamento, é preciso que esses empregadores passem a pagar a previdência em relação aos seus lucros.
Os trabalhadores sempre tiveram um papel importante na defesa da previdência social. E essa defesa passa hoje pela imediata exigência de que a lei seja cumprida e o Tesouro repasse à previdência social os valores correspondentes às renúncias previdenciárias. Se, em meio a essa crise internacional, a desoneração foi importante, porque viabilizou a diminuição dos custos da folha e seus encargos sem que os salários ou os direitos fossem reduzidos, é urgente que o governo cumpra a sua parte e faça prontamente os devidos ressarcimentos à Previdência Social, para compensar todas as perdas.
* por Antônio Augusto de Queiroz, jornalista e analista político e diretor do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap) e Flávio Tonelli Vaz, bacharel em Direito e Assessor Técnico na Câmara dos Deputados
As centrais sindicais organizam, para o próximo 30 de agosto, o Dia Nacional de Mobilização e Paralisação, priorizando a luta pelo fim do fator previdenciário, pela redução da jornada de trabalho para 40 semanais e de combate ao Projeto de Lei (PL) 4.330, que escancara a terceirização no país, aumentando a precarização do trabalho.
Para o presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Vagner Freitas, o movimento sindical enfrenta “as dificuldades diante de um governo de disputa em que muitas vezes os interlocutores vão se alternando”. E prossegue: “Daí a importância da pressão conjunta, da unidade de ação do movimento sindical para impedir retrocessos e ampliar conquistas.”
Freitas acredita que, com os trabalhadores em campo, paralisando atividades, realizando protestos e passeatas, “acumulamos força para pressionar o Congresso Nacional e o governo federal”. Ele destaca que foi assim que, nos últimos dias, as centrais sindicais conseguiram impedir a votação e aprovação do PL 4.330, impondo uma terceirização indiscriminada.
Estudos do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) apontam que o trabalhador terceirizado recebe salário 27% menor que o contratado diretamente, tem jornada semanal de três horas a mais, permanece 2,6 anos a menos no emprego, e sua rotatividade é mais do que o dobro (44,9% contra 22%). Além disso, aponta o Dieese, a cada 10 acidentes de trabalho, oito acontecem entre os terceirizados.
Reforma agrária, já!
Membro da coordenação nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), João Paulo Rodrigues condenou a postura do governo federal que “nem desapropria terra nem senta com o movimento”. “Temos 80 mil famílias acampadas que necessitam ter prioridade nesse momento. Nos somamos à manifestação das centrais sindicais bastante animados de que o aumento da pressão vai abrir caminho para os avanços que o nosso povo e o Brasil precisam”, acrescentou.
Para o secretário geral da Central Geral dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CGTB), Carlos Alberto Pereira, “o momento é de avanço do movimento sindical” e reflete os avanços obtidos a partir da mobilização de junho, que reuniu dois milhões de trabalhadores em mais de 250 cidades. “De lá para cá tivemos três vitórias: a do Fundo Social do Pré-Sal, que garantiu mais de 200 bilhões de reais para a educação nos próximos dez anos; adiamos o PL da terceirização por 30 dias, barrando a tentativa de golpe que busca ampliar e legitimar a precarização; e aceleramos a nossa mobilização, o que tem sido fundamental para aprofundar as negociações com o governo e o Congresso Nacional”, disse Pereira.
Protagonismo da classe
De acordo com o secretário geral da Força Sindical, João Carlos Gonçalves (Juruna), “construída na luta, a pauta unitária dos trabalhadores tem repercutido positivamente junto às bases e contribuído para que o papel do movimento sindical seja valorizado na mesa de negociação”. Juruna lembrou que, apesar da campanha dos grandes conglomerados de comunicação para inviabilizar ou diminuir o protagonismo da classe trabalhadora na luta por mudanças, a ação unificada tem rendido frutos e demonstra a correção da iniciativa.
O secretário geral da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Pascoal Carneiro, relatou da grande receptividade que a convocação do dia 30 de agosto vem tendo pelo país, citando a assembleia realizada recentemente na capital baiana, “onde há muita disposição de parar para colocar o país nos trilhos”. “O sentimento é de greve no dia 30 em defesa de um projeto nacional de desenvolvimento com valorização do trabalho, combatendo a precarização e o retrocesso”.
O presidente da União Geral dos Trabalhadores (UGT), Ricardo Patah, disse que além de reivindicar do governo ações concretas em benefício da sociedade, o movimento sindical precisa realizar uma grande manifestação no Congresso Nacional. “Nos 25 anos da Constituição de 1988, devemos apontar os nós que precisam ser desatados para que o país avance, pressionando os parlamentares a que tomem posição ao lado dos trabalhadores”, enfatizou Patah.
A luta contra a precarização das relações de trabalho, apontou o presidente da Central dos Sindicatos Brasileiros (CSB), Antonio Neto, deve ser amplificada, “tanto no setor privado quanto público”. “A Lei 8.666 que dispõe sobre a contratação direta significa contratação via preço, o que representa trabalho mais barato, precário. Esta é uma questão que precisa ser alterada com urgência”, defendeu.
Em nome da Nova Central Sindical dos Trabalhadores (NCST), Luiz Gonçalves (Luizinho), enfatizou o compromisso de “parar aonde for possível no próximo dia 30 de agosto”. “O volume do nosso protesto é essencial para mostrar que o movimento sindical está engajado em buscar o resultado das nossas negociações, a melhoria das relações de trabalho e o desenvolvimento do país”, concluiu.
Fonte: Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap)
Um estudo preparado pela armadora Maersk, empresa do grupo de logística A. P. Moller-Maersk, deixou explícito o tamanho do obstáculo que enfrentam as empresas transportadoras e de assessoria aduaneira no Porto de Santos. E ajuda a explicar as dificuldades, poupando horas de diálogo para justificar aos clientes a demora com que as mercadorias são despachadas ou desembaraçadas na aduana santista. Basta ver que, segundo o estudo, um contêiner com commodities ou com produtos manufaturados leva, em média, 21 dias para ser liberado, após a chegada ao cais.
Ora, isso significa 19 dias a mais que a mesma carga leva para ser desembaraçada no Porto de Roterdã, na Holanda. Mas se a diferença fosse mesmo de 19 dias ainda seria aceitável. Acontece que, muitas vezes, o navio que chega à barra de Santos tem de ficar muito tempo à espera de autorização para entrar no canal do estuário. Ou seja: de acordo com o estudo da Maersk, no ano passado, o tempo de espera para atracação em Santos foi de 16 horas, quase três vezes o que se gastava, por exemplo, há dez anos, quando a embarcação tinha de esperar, em média, seis horas.
O estudo observa ainda que, em termos de produtividade, o Porto de Santos apresenta um índice 40% inferior ao do porto chinês de Qingdao. E olhem que, em 2012, houve uma notável evolução em relação a 2011, com o registro de 64 movimentos de atracação por hora contra 39. Seja como for, o que o estudo indica é que o principal gargalo logístico no Porto de Santos está mesmo nas vias de acesso à zona portuária. Ou seja, depois da demora para o desembaraço da mercadoria, o pior ainda estará por vir: a circulação da carga nas vias que deixam o porto.
Hoje, sabe-se que esse gargalo se deu por conta da incúria do governo do Estado, ao longo das últimas quatro décadas, pois não se preocupou em fazer as obras complementares à Rodovia dos Imigrantes que já estavam no papel ao início da sua construção na década de 70. Como se sabe, a pista norte da Rodovia dos Imigrantes foi inaugurada em 1974 e a pista sul somente em 2002, sem essas obras. Em função disso, o custo rodoviário para Santos hoje é de 25% a 40% acima do que é registrado em portos da mesma magnitude no mundo. Como mostra o estudo, isso significa que é mais econômico enviar um contêiner de Santos para a China do que transportar carga num caminhão de Campinas para Santos ou vice-versa.
Diante disso, fica complicado a grupos privados, como o A. P. Moller-Maersk, um dos proprietários da Brasil Terminal Portuário (BTP), que começou a funcionar em agosto, continuarem investindo maciçamente no Porto de Santos, pois pouco adianta oferecer um terminal com total infraestrutura e movimentação eficaz se depois o caminhão com a carga vai ficar parado na rodovia por horas e horas. Portanto, ou a União e os governos estaduais melhoram a infraestrutura rodoviária e ferroviária do País ou os grupos privados internacionais começarão a pensar duas vezes antes de investir no setor portuário brasileiro.
* por Mauro Lourenço Dias, engenheiro eletrônico, vice-presidente da Fiorde Logística Internacional, de São Paulo-SP, e professor de pós-graduação em Transportes e Logística no Departamento de Engenharia Civil da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)
Reunidos em assembleias nos dias 19 e 20 de agosto último, respectivamente, nas sedes da empresa em Bauru e Barueri, os engenheiros deliberaram pela aprovação da proposta da AES Tietê, apresentada ao Sindicato dos Engenheiros no Estado de São Paulo (SEESP) no dia 15 último, visando à celebração do Acordo Coletivo de Trabalho (ACT) 2013/2015.
Entre os principais itens da proposta, destacam-se: reajuste salarial de 7,2% (1,99% de aumento real); reajuste dos benefícios em 8%; antecipação da Participação nos Lucros e Resultados (PLR) para o dia 12 de setembro de 2013 no valor de R$ 4.000,00; PLR adicional de R$ 650,00; vale-alimentação de Natal no valor de R$ 700,00, entre outros.
Lourdes Silva
Imprensa - SEESP