Marco Aurélio Cabral Pinto*
No Brasil, políticas de conteúdo nacional em compras públicas é assunto de hereges. Por quê? Porque os interesses financeiros hegemônicos no País desde os anos 1980 tratam qualquer tentativa de proteção da indústria nacional como crime contra a “economia de livre mercado”. Segundo esta crença, qualquer tentativa de suprimir a “concorrência internacional” implica no favorecimento de “grupos” nacionais. Ou seja, segundo a crença liberal na “concorrência perfeita”, políticas de conteúdo nacional implicam em favorecimento de grupos nacionais.
O que não se conclui, usualmente, é que vale o oposto. Ou seja, ausência de políticas de conteúdo nacional conduz ao favorecimento de interesses no estrangeiro. No Brasil a quase ausência histórica de políticas de conteúdo nacional tem resultado em mãos ágeis, ainda que visíveis, de chineses e norte-americanos.
No caso do setor petróleo, a política de conteúdo nacional torna-se crítica à industrialização brasileira. Pode-se afirmar isso por ao menos três razões: (i) potencial de criação de empregos qualificados no País; (ii) indução de pesquisa e desenvolvimento em firmas de capital nacional; e (iii) fortalecimento da capacidade competitiva da Petrobras.
O montante de investimentos da Petrobras é estimado de multiplicar em mais de duas vezes e meia (2,452 – FGV) a geração de renda ao longo das cadeias produtivas industriais. Considerando-se os investimentos da Petrobras como US$25 bilhões (2015), tem-se como renda gerada na cadeia produtiva industrial cerca de US$ 63 bilhões. Ou seja, uma política de conteúdo mínimo nacional de 60% nos investimentos da Petrobras implicaria criação, no Brasil, de algo como US$ 38 bilhões. Isto representaria mais que dobrar os efeitos de emprego e renda no Brasil criados pela Petrobras com seus investimentos no ano. Ou seja, quase dispor de uma “segunda Petrobras”.
E o que aconteceria com os outros 40%? A resposta é que irão gerar empregos e renda no exterior. E se a política de conteúdo nacional fosse de 100%, conforme anunciaram os norte-americanos? Nestas circunstâncias estimam-se em torno de 1,5 milhões de empregos de boa qualidade criados ao ano (salários de US$40 mil/ano).
O montante alocado em pesquisa e desenvolvimento de novos produtos, partes, peças e componentes, é função, entre outros, da receita das empresas. Na indústria, a perspectiva de integrar uma cadeia produtiva como fornecedor, usualmente implica em gastos prévios em projetos de desenvolvimento. Além de reagir rapidamente aos investimentos da Petrobras, os empregos em engenharia de desenvolvimento no País dependem do índice de nacionalização das encomendas.
Caso se importe 100% do conteúdo associado aos investimentos da Petrobras, pouco ou nada de desenvolvimento tecnológico será induzido no Brasil. Aliás, como tem sido usual. Ao contrário, políticas de conteúdo mínimo nos investimentos da empresa podem gerar até 40 mil empregos de engenharia de ponta no País[1] (100% conteúdo nacional).
Finalmente, a política de conteúdo mínimo nas compras da Petrobras terá como consequência a formação de empresas brasileiras de parte, peças, componentes e sistemas. Lembram-se que a desvalorização cambial atingiu a Petrobras no lado dos financiamentos externos mais caros, e quase quebrou a empresa? Pois bem, a política de conteúdo nacional mínimo protege o fornecimento em caso de movimentos bruscos de desvalorização do real. Ou seja, ao contar com custos de investimento majoritariamente em reais, a Petrobras conquistará maior autonomia financeira e operacional.
Em síntese, aos engenheiros a política de conteúdo mínimo é relevante não apenas para o setor petróleo, mas para outros que possuam potencial de criação de empregos de boa qualidade no País. No caso específico da Petrobras, o potencial de criação de empregos é suplementado por aumento de autonomia tecnológica e fortalecimento da inserção internacional da empresa-líder.
[1] Considerou-se 5% do investimento total de US$ 63 bilhões com salários de US$ 80 mil médios anuais p engenheiro.
Marco Aurélio Cabral Pinto é professor da Universidade Federal Fluminense (UFF) e consultor da Federação Nacional dos Engenheiros (FNE)
João Franzin*
O Brasil sofre um tríplice ataque. O objetivo é nos transformar num grande Puerto Rico, numa espécie de colônia barata para o grande capital e os Estados Unidos.
Esses três ataques, vale recordar, decorrem da agressão maior, que foi a derrubada da presidente Dilma por um golpe de novo tipo.
Quais os três ataques?
1 - Ordem Social - O alvo é o Capítulo VIII da Constituição, da Ordem Social, cujos Artigos 193 e 194 definem, primeiro, o conceito de ordem social e, na sequência, estabelecem o que é seguridade, como um conjunto integrado destinado a assegurar Saúde, Previdência e Assistência social.
Ao derrubar direitos, alterar garantias, impor novo teto e dificultar acesso à aposentadoria – bem como achatar os proventos – a PEC 287 do governo agride a própria Ordem Social. Em sendo assim, o lugar da ordem passará a ser ocupado pela desordem social.
2 - A Ordem Econômica - A economia brasileira passa por devastador processo de desnacionalização. A indústria é desmontada e setores inteiros e estratégicos – como óleo e gás – são repassados a estrangeiros. Na esteira desse desmonte, a engenharia nacional também desmorona, numa criminosa operação de descarte da inteligência, da técnica e da possibilidade futura de desenvolvimento, autonomia e soberania.
3 - Estado mínimo - A emenda constitucional que congela gastos e investimentos por 20 anos veste camisa de força no Estado, desequilibra o jogo a favor do mercado, enfraquece as conquistas sociais da Constituição e deixa o ente estatal sem poder de investir, atuar em setores estratégicos e suprir as lacunas onde a iniciativa privada não tem interesse ou só atua com garantia de alto rendimento e baixo risco.
A Nação brasileira se sustenta nesses três pilares. Ou seja, a Ordem Social firmada na Constituição, a Ordem Econômica da atividade produtiva privada (que gera emprego e distribui renda) e o Estado, que equilibra as relações, protege o fraco e intervém nas áreas estratégicas.
Ao agredir as bases sobre as quais se assenta a Nação, o governo radicaliza e acelera o que a carta-convite ao grande capital – “Uma ponte para o futuro” – oferecia durante os preparativos do golpe de Estado travestido de impeachment, em que o próprio Michel Temer exerceu papel central.
Esse nível de agressão, de tamanha extensão e profundidade, é inédito na história republicana brasileira. Em outros momentos, a energia social dirigida por lideranças consequentes e entidades combativas conseguiu reduzir os impactos do ataque. Agora, há dúvidas. De um lado, faltam líderes confiáveis, de outro, sobram instituições desacreditadas.
Sob um governo ilegítimo, corrupto e antinacional, tudo pode acontecer com o Brasil. O que aconteceu e o que está acontecendo já sabemos. Resistir, apenas, não basta. Precisamos encontrar meios de derrotar o projeto antinacional, antes que as condições piorem e a crise passe a ser rotina e normalidade, pois não é.
* João Franzin é jornalista e diretor da Editora e Agência de Comunicação Sindical
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) constituiu, na última sexta-feira (3/02), a comissão especial que vai debater e votar, conclusivamente, o PL 6.787/16, que trata da reforma trabalhista. O ato seguinte vai ser instalar o colegiado assim que os líderes partidários indicarem seus membros.
Para relatar o projeto, no colegiado, foi designado o deputado Rogério Marinho (PSDB-RN). O presidente da comissão ainda não foi escolhido. Ele está no 3º mandato, é economista, professor e administrador público. Natural de Natal foi vereador na capital potiguar.
Para ser formalmente considerado relator do projeto, é necessário, agora, a instalação da comissão especial e eleição do presidente, que designará o relator. Marinho, que votou favoravelmente ao PL 4.330/04, em entrevista afirmou que sua intenção é fazer um “pente-fino” nos mais de dois mil projetos de mudanças na legislação trabalhista em tramitação, para acelerar a reforma, podendo incluir temas polêmicos evitados pelo planalto, como a terceirização e o trabalho intermitente. Leia mais sobre a reforma trabalhista
Por esta posição do relator vê-se que ele está afinado com a posição da bancada empresarial e do mercado. Desse modo, a luta do movimento sindical para derrotar esse projeto deverá se elevar substantivamente.
Tramitação
A comissão terá prazo de 10 sessões, sendo as primeiras cinco para apresentação de emendas ao texto. A partir da sexta sessão, o relator poderá apresentar seu parecer.
Poderá haver outras possibilidades de prazo: 1) o relator pode definir um calendário; 2) o prazo poderá se estender até concluir-se a votação; e 3) ser até de 40 sessões para debates e votação da matéria.
Prazo
Ao final desse período pré-estabelecido para funcionamento da comissão, abre-se prazo para apresentação de recurso contra a decisão conclusiva do órgão.
É necessário o apoiamento de 52 deputados para levar o recurso ao plenário, a fim de que a matéria seja apreciada também pelo conjunto da Câmara. Destaque-se que, raramente, estes prazos são fielmente cumpridos pela Casa.
Urgência
Pode ser que haja, ainda, pedido de urgência solicitada pelo Executivo ou por iniciativa dos deputados. Caso seja aprovado requerimento com este propósito, são necessários 257 votos favoráveis ao requerimento de urgência, ou assinatura de líderes que represente este total.
Se isto ocorrer, o projeto vai à apreciação direta no plenário da Câmara. Esta seria uma estratégia para acelerar a tramitação e votação na Casa.
Comunicação SEESP
Informação do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap)
A Câmara dos Deputados pode instalar, nesta semana, a comissão especial que vai debater e votar a reforma da Previdência (PEC 287/16). O presidente do colegiado e o relator dos trabalhos já estão indicados: serão, respectivamente, os deputados Sergio Zveiter (PMDB-RJ) e Arthur Maia (PPS-BA).
Após a instalação do colegiado, que será feito depois que os líderes partidários indicarem os membros do órgão, será aberto prazo de dez sessões para apresentação de emendas ao texto, fim dos quais o relator poderá apresentar parecer sobre a proposta. A previsão é que a comissão encerre os trabalhos, com a votação da matéria, no final de março.
O prazo total da proposta na comissão é de 40 sessões ou cerca de dois meses. Em geral esses prazos regimentais não são cumpridos. Votada a matéria no colegiado, o texto vai ao exame do plenário para votação em dois turnos.
Perfil
O deputado Arthur Maia está no 2º mandato, baiano, advogado e mestre em Direito Econômico. Destaca-se como formulador. Foi o relator, na Câmara, do projeto de lei da terceirização (PL 4.330/04).
Pauta da semana
O Colégio de Líderes se reúne, nesta terça-feira (7/02), às 11 horas, para discutir a pauta de votações da semana. A reunião vai ocorrer no gabinete da Presidência da Câmara.
Reforma trabalhista
Há a expectativa de o presidente da Casa anunciar a instalação, também, da comissão especial que vai examinar a reforma trabalhista, nos termos do PL 6.787/16. O colegiado já foi constituído.
Para começar os trabalhos do órgão, os líderes partidários precisam indicar os membros, que em seguida escolhem o presidente dos trabalhos, que por sua vez, indica o relator. Já é sabido o nome do relator, o deputado Rogério Marinho (PSDB-RN).
Comunicação SEESP
Informação do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap)
Atento à expansão do agronegócio brasileiro e dedicado à especialização e qualificação profissional, o Instituto Superior de Inovação e Tecnologia (Isitec) escolheu a cidade de Itapetininga, no interior paulista, como um dos polos de pós-graduação em engenharia de segurança do trabalho.
O curso lato sensu terá início no dia 24 de março, tendo como diferencial a aplicação de conhecimentos específicos em agricultura junto à grade regular para especialização em Engenharia de Segurança do Trabalho. Ou seja, além das disciplinas regulares previstas para que o profissional se especialize e atue em qualquer área da engenharia, o curso de pós-graduação do Isitec também contará com um módulo específico sobre o campo, abordando, por exemplo, as condições de segurança e o meio ambiente do trabalho nas atividades rurais, ampliando as possibilidades de atuação em atividades rurais e no agronegócio.
O diretor de Extensão e Pós-graduação do Isitec, Antonio Octaviano, ressalta o protagonismo do instituto na aplicação do curso e as possibilidades de atuação para os profissionais que vierem a se especializar. “É um curso inédito no Brasil e chega à Itapetininga para atender engenheiros e arquitetos dessa cidade que buscam atualizar os seus conhecimentos e, também, daqueles que estão na região de Sorocaba. Além de uma pós-graduação, o curso garante uma nova habilitação profissional, como engenheiro de Segurança do Trabalho, permitindo atuar em uma nova área em adição a sua formação original”, destaca.
Segundo Octaviano, o Isitec inova ao associar conhecimentos específicos da agricultura ao novo curso, já que essa é uma área de atuação importante e ainda carente de profissionais especializados. “Normalmente, os cursos de segurança no trabalho são voltados para as áreas urbanas e industriais. Esse novo foco proposto sob o aspecto de atuação no campo foi levado em conta para produção, geração de emprego e renda e, ainda, serão considerados os aspectos regionais de cada município onde se dará a pós”, explica, lembrando que o curso foi concebido a partir de entendimentos iniciais com a Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (Faesp) e seus sindicatos rurais das regiões.
A coordenação técnica do curso é do professor Celso Atienza, renomado especialista em Engenharia de Segurança do Trabalho. Segundo o coordenador, o objetivo é expandir a qualificação dos profissionais para a promoção do agronegócio. “Precisamos de uma agricultura com práticas cada vez mais sustentáveis, executadas por técnicos que tenham a capacidade para acompanhar o avanço tecnológico representados pelo surgimento de novos equipamentos, novos métodos e processos de trabalho. Tivemos a preocupação em formatar um curso que pense em geração de empregos, em sustentabilidade e em criar melhores condições de trabalho”, completou Atienza.
As aulas serão ministradas semanalmente, aos finais de semana, com carga horária de 680 horas e duração de dois anos ? sextas à noite e sábados nos períodos manhã e tarde. As inscrições já podem ser feitas na delegacias sindical do Sindicato dos Engenheiros de São Paulo (SEESP) de Sorocaba.
Informações
O curso terá duração de dois anos, com investimento em 24 parcelas mensais no valor de R$ 700. O valor permanecerá o mesmo durante os dois anos do curso. Associados ao SEESP têm 10% de desconto. O mesmo percentual de desconto também será aplicado aos profissionais vinculados ao Sinaenco e ao Sinduscon e aos profissionais registrados e em dia com o pagamento da anuidade junto ao Crea-SP.
Comunicação SEESP
Nesta segunda-feira (6/02), às 10h, será realizada reunião, no auditório do Edifício Cidade I (Rua Boa Vista, 170, no Centro de São Paulo), entre o SEESP, o Sindicato dos Metroviários e a direção do Metrô. Na ocasião, será apresentada pela companhia a proposta do Programa de Participação nos Resultados (PPR) de 2017.
É importante a presença de todos os engenheiros para que, unidos, possamos evitar perdas em salários e benefícios.
Comunicação SEESP
A Delegacia Sindical do SEESP em Taubaté realiza, no dia 21 de fevereiro próximo, às 19h, a palestra “Tubulação flexível para poços”, com o gerente de produto da Sampla do Brasil, o engenheiro Moisés Macen. Ele vai falar sobre a substituição de tubos edutores rígidos com vantagens competitivas como menor perda de carga (economia de energia); fácil de montar, transportar e armazenar; não corrosão etc..
A atividade será na sede da regional, que fica na Rua Venezuela, 271, no Jardim das Nações. Mais informação sobre o evento pode ser obtida pelo telefone (12) 3633-5411 ou pelo e-mail Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo..
Comunicação SEESP
João Guilherme Vargas Netto *
Há hoje dois pontos de vista que perturbam os dirigentes sindicais e fazem que eles se desorientem sobre o que deve ser feito e como fazê-lo.
O primeiro deles é ver – sem olhar crítico – tudo aquilo que “querem” que seja visto, na forma e nas colorações que “querem” dar à visão.
O outro é não ver – com o olhar indignado – o que se passa em volta, na vida diária e sofrida dos que nos são próximos ou pertencem à base da nossa representação.
Ver somente o que “querem” que se veja ou não ver aquilo que nos rodeia compõem o duplo cego. Um é cego de antolhos, o outro é cego mesmo.
Tomemos o caso do desemprego e dos desempregados.
Querem que vejamos a tragédia com olhos de estatísticos preocupados com a fraudulenta exatidão dos números e aceitemos a fatalidade do quadro.
Ao mesmo tempo não vemos a situação dramática dos desempregados, nossos semelhantes, nossos irmãos.
Não nos emocionamos e não nos indignamos com a tragédia social que nos enluta mais que mil deslizamentos de terra, mil quedas de avião, mil degolamentos em presídios e mil mortes de teoris.
Embora, com justa razão, o movimento sindical tenha como um dos eixos de sua ação a luta contra a recessão, pelo abaixamento de juros e pela retomada do desenvolvimento, o terror estatístico dos números do desemprego não pode nos levar a pasteurizar a luta para diminuir as agruras e sofrimentos dos desempregados.
A Frente Contra o Desemprego das entidades sindicais paulistanas que, de maneira articulada, unitária, paciente e persistente, pretende lutar contra o desemprego em São Paulo, precisa urgentemente concentrar-se naquela ação que pode, no curto prazo, representar isto: a efetivação do passe livre para o desempregado, que já é lei e precisa apenas ser regulamentada.
Esta ajuda concreta aos milhões de homens e mulheres desesperados pode ser o início de uma verdadeira e consequente plataforma paulistana de combate à catástrofe social do desemprego.
Eu me emocionei quando vi no Jornal Nacional o choro da jovem mãe desempregada e em busca de emprego que, tendo gasto dois reais em um cartório, não tinha dinheiro para voltar de ônibus para casa.
* João Guilherme Vargas Netto é analista político e consultor sindical
Artur Araújo *
Pedro Parente, presidente da Petrobrás, publicou panfleto em um periódico. É boa uma de suas afirmações: “(...) a Petrobras defende uma política de conteúdo local que ajude a indústria a ser competitiva globalmente e está disposta a contribuir para isso. A política precisa incentivar a inovação, as parcerias, a produção com qualidade, custos e prazos adequados. (...) Esta é a verdadeira escolha: entre o ranço ideológico, que a poucos beneficia, e a dignidade e o bem-estar que um novo emprego pode proporcionar a milhões de brasileiros e a suas famílias.”
Só que ao longo do texto – ironicamente intitulado “Ranço ideológico e vida real” – o objetivo real de Parente vai se revelando em sinuosos movimentos. Ele nos conta, por exemplo, que “a exigência de um conteúdo local muito acima da capacidade da indústria impôs prejuízo significativo ao governo e ao setor. Quem diz isso não é a Petrobras, mas o Tribunal de Contas da União, que em auditoria recente concluiu que ‘existe um alto custo da política, em função da baixa competitividade da indústria nacional’”. Em bom português, isso é cascata.
Nem é necessário lembrar do efeito desastroso do real artificialmente valorizado (para “ancorar a inflação”), cenário que já liquida boa parte da competitividade de quem gera empregos, paga impostos e reinveste no Brasil. Juros internos absurdamente superiores aos internacionais são fator negativo mais do que conhecido. Parente sabe muito bem disso, mas sofre de amnésia interessada.
E mesmo com toda essa desvantagem competitiva de largada, há, sim, capacidade tecnológica e preços competitivos de fornecedores nacionais de construção pesada; de máquinas & equipamentos; de construção, manutenção, reparos e suporte navais, além de uma enorme gama de bens e serviços correlatos. Só não fala disso quem – por ranço ideológico, acobertamento da vida real e interesses econômicos ocultos – finge que não vê e não quer que ninguém mais veja.
As empresas que estão instaladas de fato no Brasil (pouco importa se seu controle acionário é de brasileiros ou não) não só permitem a geração e absorção local de tecnologia, como reduzem a pressão em nosso balanço de pagamentos (menos royalties a se enviar para o exterior) e são essenciais para a sustentação de uma extensa cadeia de “subfornecedores” locais de insumos, componentes e projetos.
Engenharia é fator estratégico para o desenvolvimento nacional mas, a prevalecer a ideologia interessada, o Brasil também se privará de fontes decisivas de progresso.
A contratação de transnacionais transfere para o exterior todas as atividades de pesquisa pura e aplicada, de inovação tecnológica e de projetos. Isso fará com que equipes de engenharia, que hoje atuam no País, sejam drasticamente reduzidas e dispersadas e eliminará o impulso futuro para formação de mais engenheiros e de avanço tecnológico e produtivo.
Entidades nacionais dos engenheiros (sindicatos, federações, sistema Confea/Creas, associações profissionais) e de representação empresarial (Abimaq, Sinaenco, Sinicon, Abemi, Sobena, entre outras), cientes da gravidade do cenário, vêm se articulando para contestar e tentar reverter essa trava ao nosso desenvolvimento.
Fatos tão relevantes quanto estes estão propositalmente ausentes do texto de Parente.
O auge do cinismo é atingido quando o presidente da Petrobrás saca duas “histórias de interesse humano”. Escolhe a dedo duas empresas instaladas no Brasil há décadas e que, portanto, são fornecedoras nacionais. Faz de conta que é a elas que se refere a crítica à nova política da Petrobrás, política que privilegia empresas transnacionais que desenvolvem tecnologia, projetam, fabricam, pagam impostos, geram empregos e investem fora do Brasil, em detrimento das que aqui operam, com maioria de capital brasileiro ou não.
As histórias de vida dos dois trabalhadores – da Schlumberger e da WEG –, que ele relata em clima emocional, é realmente meritória e entusiasma. E é essa a vida real que Parente quer encerrar. A reorientação que ele quer dar às compras da Petrobrás impedirá que muitas outras empresas instaladas no Brasil se viabilizem. E que muitos outros Adires e Ademires contribuam com suas famílias e com nosso país.
O ranço ideológico guia Parente: quer desmontar tudo que possa ser instrumento de autonomia brasileira. A vida real que ele nos propõe é o atraso: sermos meros entregadores de óleo bruto e deixar que todos os efeitos positivos da cadeia produtiva do setor de petróleo & gás vazem para as sedes dos conglomerados transnacionais que tanto o atraem.
Esse é o bote da serpente.
Artur Araújo é consultor do projeto "Cresce Brasil + Engenharia + Desenvolvimento" e em gestão pública e privada
A Federação das Associações de Engenheiros Ferroviários, com sede no Rio de Janeiro e que agrega 12 associações, realizou no dia 27 de janeiro último, o pleito da diretoria para o biênio 2017 a 2019. A diretoria atual foi reeleita, tendo à frente Marcos Wanderley Ferreira, e a vice-presidente Clarice Soraggi, também diretora da Federação Nacional dos Engenheiros (FNE). Foram reafirmados os compromissos da entidade, entre eles: defesa do patrimônio ferroviário, participar da discussão dos assuntos relativos a ferrovia, encaminhar subsídios a parlamentares na defesa da ferrovia e representar os ferroviários ativos e inativos nas negociações salariais e de interesse da classe ferroviária.
A entidade promove eventos técnicos, culturais e sociais, reuniões com seus associados, dirigentes de empresas ligadas ao setor ferroviário, entidades de classe e outros, visando a defesa da ferrovia e dos ferroviários. Para isso, possui uma infraestrutura capacitada em um excelente ambiente.
Ao longo de seus 70 anos de atividade, a entidade sempre esteve presente nas lutas em defesa da classe ferroviária, dos destinos da ferrovia nacional e da preservação de sua memória histórica.
Entidades integrantes
Associação de Engenheiros Ferroviários – AENFER; Associação de Engenheiros da Estrada de Ferro Leopoldina – AEEFL; Associação de Engenheiros da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil - AEEFNOB; Associação de Engenheiros da Estrada de Ferro Santos a Jundiaí – AEEFSJ; Associação de Engenheiros da Rede Cearense – AERVC; Associação de Engenheiros Ferroviários do Nordeste – AEFN; Associação de Engenheiros da Rede Viação Paraná - Santa Catarina – AERVPSC; Sociedade dos Engenheiros da Viação Férrea Rio Grande do Sul – SERVRGS; Associação de Engenheiros da Centro-Oeste – AENCO; - Associação dos Engenheiros e Técnicos Ferroviários da Bahia e Sergipe – AELB; Associação de Empregados Ferroviários Ativos de São Paulo – AEFEASP; Associação dos Ferroviários Aposentados do Estado do Rio Grande do Sul – AFARGS.
Foto: Divulgação
Na foto em pé (da esq. para a dir.), Jair J. da Silva, Izabel Cristina, Marcelo V. Pires, Luiz C. Marcondes, Valdison Costa, Argel Otharan.
Sentados: Jerônimo Pug, Luiz Euler de C. Mello, Clarice Soraggi , Marcos W. Ferreira e Clovis Soares.
Rosângela Ribeiro Gil
Comunicação SEESP