O professor Crodowaldo Pavan, considerado o pai da genética no País, faleceu em abril último aos quase 90 anos. Manteve um espírito jovem e inquieto até o fim da vida, com uma eterna veemência sobre a necessidade da participação do cientista, do intelectual, na solução dos problemas sociais. Ele foi um representante da geração da década de 50 que sonhava e lutava pela construção de um Brasil desenvolvido, soberano e progressista. Deixou-nos uma grande lição de vida.
Biólogo e biogeneticista, foi uma das pessoas mais importantes da ciência brasileira. Pesquisou os efeitos da radiação nos genes e colocou o Brasil no mapa desse campo do saber do mundo. Derrubou um paradigma. Até então, acreditava-se que todas as células tinham a mesma quantidade de DNA. Pavan demonstrou o contrário, pois em alguns cromossomos há a multiplicação e em outros, não-Viveu intensamente a política científica do País. Foi um dos fundadores da Academia de Ciências do Estado de São Paulo, da Adusp (Associação dos Docentes da USP), da qual foi seu primeiro presidente, da Academia de Ciências do Terceiro Mundo. Foi ainda presidente da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), entre 1981 e 1984, da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência), de 1981 a 1986, e do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), de 1986 a 1990. Era professor vitalício de genética da Universidade do Texas.
Conhecemo-nos na década de 80, quando o convidamos para debater no SEESP o processo pela conquista da Assembléia Nacional Constituinte. Era o período de intensa mobilização social pelo fim do regime militar e implantação da democracia. Ele entendia a importância da unidade das comunidades científica e tecnológica para aumentar o peso e a influência da C&T no processo de desenvolvimento nacional.
Quando foi convidado a presidir o CNPq em 1986, investiu em grandes projetos científicos e tecnológicos. Daí, dentre outros, implantou o Laboratório Nacional de Luz Síncroton, em Campinas, hoje um dos mais conceituados aceleradores de partículas do mundo, com importantes contribuições para a física, a medicina, as ciências dos materiais e a agricultura. Criou a Estação Ciência (que completou recentemente 22 anos) com o apoio do governo estadual paulista e de algumas empresas. Era a concretização de um velho sonho do professor José Reis desde 1954. Isso impulsionou a criação de dezenas de outros museus de divulgação da ciência e tecnologia para os jovens e adultos em vários estados.
Pavan tinha clareza que para sair de um Brasil em desenvolvimento para um desenvolvido era necessário conquistar uma sociedade do conhecimento, investir em educação, em cérebros, em requalificação profissional no ambiente de trabalho. O número de bolsas de estudo do CNPq no País e no Exterior saíram de 10 mil e foram a 60 mil em quatro anos.
Um dos fatos mais relevantes da época foi a conquista do capítulo inédito de Ciência e Tecnologia na Constituição Federal de 1988. Pavan era um entusiasta dessa articulação e não mediu esforços para sua conquista, assim como dos capítulos sobre o nosso subsolo e o meio ambiente. Recordo que ele, o então ministro Renato Archer e o secretário executivo do Ministério da Ciência e Tecnologia, Luciano Coutinho, a deputada Cristina Tavares, o senador Severo Gomes e o próprio presidente da Assembléia Nacional Constituinte, deputado Ulysses Guimarães, deram um apoio decisivo à introdução deste capítulo.
Fui um dos coordenadores nacionais, ao lado do presidente da FNE (Federação Nacional dos Engenheiros), Antonio Octaviano, do “Movimento de C&T na Constituinte por um Desenvolvimento Social”, que uniu 250 entidades e instituições para formatar, discutir e defender os artigos 218 e 219. Eles se referem ao apoio do Estado à formação de recursos humanos, principalmente no processo produtivo, ao desenvolvimento científico e tecnológico e à defesa do mercado interno do País como patrimônio econômico, científico, tecnológico e cultural. Isso, nos dois anos seguintes, influenciou diretamente as constituições estaduais e municipais, formando um arcabouço institucional precioso.
Nos últimos 20 anos, Pavan transformou-se num grande conselheiro e amigo dos engenheiros. Foi agraciado como Personalidade da Tecnologia na área de Biotecnologia pelo SEESP e participou ativamente de seu Conselho Tecnológico até os seus últimos meses de vida. Ele nos ensinou a pensar grande, transmitindo seu amor pelo Brasil e pelo seu povo e nos animou sempre a agir, nos unir por uma Nação democrática, empreendedora e justa. Obrigado mestre.
O sétimo balanço quadrimestral do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), referente ao período entre janeiro e abril de 2009, foi apresentado pelo Governo em 3 de junho último. Segundo os dados oficiais, das 2.446 ações previstas, 14% já foram concluídas e 77% estão com execução adequada; 7% exigem atenção e 2% estão em situação preocupante. As obras terminadas representam 335 empreendimentos, dos quais 133 no setor de logística; 186, de energia; e 16 no eixo social e urbano. Não entraram na análise os setores de habitação e saneamento, avaliados separadamente. Do ponto de vista dos recursos, dos R$ 646 bilhões previstos, foram aplicados R$ 62,9 bilhões, o que corresponde a 15%.
Qual a sua avaliação geral do PAC, cujo último relatório refere-se ao período de janeiro a abril deste ano?
De um modo geral, o PAC tem atingido a sua finalidade de conceber e acompanhar um conjunto de obras necessárias ao desenvolvimento do País. Deve ser dito também que o PAC não é apenas uma lista de obras, mas atinge todos os setores da economia pelo conjunto de medidas legais, fiscais e creditícias que foram lançadas no início do programa.
É grande a distância entre o que estava planejado e o que foi realizado até agora?
Creio que o andamento do PAC, se visto com isenção, está bem próximo do previsto. Nos relatórios de acompanhamento, as ações que têm recebido os selos “preocupante” ou “atenção” são em número inferior a 10% conjuntamente. Além disso, talvez o maior mérito do PAC seja a implantação de um sistema permanente de acompanhamento das ações previstas a cargo das denominadas “salas de situação”, cujo balanço é divulgado a cada quadrimestre pela Internet e através de entrevistas dos ministros Paulo Bernardo (Planejamento) e Dilma Rousseff (Casa Civil).
Do que tem sido feito até agora, o que deveria ser corrigido?
Qual a sua avaliação sobre os impactos da crise sobre o PAC? O Brasil conseguirá atravessá-la mantendo o esforço de crescimento e os investimentos produtivos?
Realizada num cenário de crise e ameaça ao trabalho, a 98ª Conferência Internacional da OIT (Organização Internacional do Trabalho) lançou uma proposta acertada: um pacto mundial pelo emprego. O documento divulgado no encontro, realizado em Genebra, em junho último, faz uma análise do problema do desemprego, que aumentou significativamente desde o ápice da recessão em novembro do ano passado, e pode ainda se ampliar substancialmente. Na turbulência financeira de 2008, ficaram sem trabalho no mundo 14 milhões de cidadãos e as perspectivas, caso não se faça nada, são de que neste ano somem-se a esse contingente mais 18 a 30 milhões.
A previsão é de que se diminua a renda per capita e o Banco Mundial estima que, até o final de 2009, 53 milhões de pessoas sejam empurradas à pobreza. Enquanto isso, a força de trabalho continua a se expandir. De acordo com a OIT, a população economicamente ativa, representada por cerca de 3,3 bilhões de cidadãos, está aumentando a cada ano, com a chegada de aproximadamente 45 milhões em busca de emprego. A situação alerta para os milhões de jovens que estão a ponto de abandonar as escolas e ingressar em um mercado deprimido. A falta de trabalho decente para quem apenas inicia sua vida laboral poderá comprometer permanentemente suas perspectivas futuras.
Até mesmo o Brasil, onde se teve a boa notícia da queda do desemprego, que em junho atingiu o menor nível do ano e chegou a 8,1%, não deixou de ser afetado. O ônus recaiu sobre trabalhadores em diversos setores, em especial ligados à exportação. Não podemos nos esquecer de casos como o da Embraer (Empresa Brasileira de Aeronáutica), que cortou 20% do seu efetivo, o que corresponde a 4.200 empregados, entre os quais cerca de 300 engenheiros.
Para amenizar os efeitos sobre a mão de obra e preparar a recuperação do cenário, a OIT propõe algumas medidas representativas do pacto global. Entre elas, investimentos produtivos e políticas ativas para a geração de oportunidades, ampliação da proteção social, apoio a grupos e setores vulneráveis, aplicação em qualificação profissional, fortalecimento dos mecanismos de negociação coletiva, apoio em especial às pequenas e médias empresas, investimento em infraestrutura, redução da jornada de trabalho, incentivos e inversões favoráveis às tecnologias que garantem eficiência energética e a criação dos chamados “empregos verdes”, opção viável e eficaz para reativar as economias e gerar rapidamente um grande número de postos.
Para os engenheiros, tal agenda é mais que bem-vinda. Por isso mesmo, a categoria, por intermédio da FNE (Federação Nacional dos Engenheiros), já trabalha na atualização do projeto “Cresce Brasil + Engenharia + Desenvolvimento”, que será apresentada durante o VII Conse (Congresso Nacional dos Engenheiros), que acontece entre os dias 23 e 26 de setembro, em São Paulo. A proposta agora é manter a assertiva de que é possível continuar a crescer enfrentando a crise.
Eng. Murilo Celso de Campos Pinheiro
Presidente
Marcos Dantas Depois de muitos anos de espera e luta, a primeira Confecom (Conferência Nacional de Comunicação) foi finalmente convocada, em abril último, pelo presidente Lula. Com etapas municipais (onde for possível), estaduais e, em dezembro, um grande encontro nacional, em Brasília, realiza-se já no final de um governo, cujo mandato de oito anos foi marcado por atitudes dúbias, alguns avanços e muitos recuos, no campo da comunicação. Os resultados da conferência, quaisquer que sejam, serão herdados pelo governo seguinte. Marcos Dantas é doutor em Engenharia de Produção pela Coppe-UFRJ (Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-graduação e Pesquisa de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro), professor da Escola de Comunicação da UFRJ e consultor do projeto “Cresce Brasil + Engenharia + Desenvolvimento” em Comunicações |
Funcionando há 53 anos no Brasil, mas passando atualmente por uma grande reformulação, a Associação de Engenheiros Brasil-Alemanha (VDI Brasil) pretende atuar como uma facilitadora de transferência de tecnologia entre os dois países. Quem afirma é o presidente da entidade, Edgar Horny, responsável pelas mudanças que vêm sendo implementadas desde março de 2008, quando assumiu o cargo.
Tendo chegado ao País em 1996 para presidir e reestruturar a Voith em São Paulo, ele é hoje presidente do Conselho Regional do grupo no Brasil e diz que pretende ficar por aqui. “Na soma, gosto de morar no Brasil. Já me habituei e agora tenho dificuldade em me adaptar aos alemães”, brinca. Na entrevista ao Jornal do Engenheiro, ele falou sobre o trabalho da VDI e a parceria com o SEESP.
Como é o trabalho da VDI na Alemanha e no Brasil?
Há uma grande diferença entre a VDI aqui e na Alemanha porque lá tem um objetivo similar ao do SEESP, defende os interesses dos engenheiros, além de tratar do intercâmbio técnico. É uma organização com 140 mil sócios e em praticamente todas as cidades tem uma sede. Aqui, auxiliamos os engenheiros alemães que vêm para o Brasil, assim como os brasileiros interessados em ir para a Alemanha. Também promovemos cursos de formação e complementação, como, por exemplo, técnicas para falar em público, assuntos que não fazem parte da educação básica do engenheiro, mas que ele precisa para sua vida profissional. Outro objetivo é divulgar mais no Brasil o que está acontecendo na Alemanha, na área tecnológica, e vice versa.
Como esse intercâmbio poderia ajudar o Brasil?
O primeiro passo numa cooperação é sempre a informação. É preciso mostrar o que há nos dois países. Por exemplo, em ambos há muita pesquisa sobre nanotecnologia e pode ser possível alinhar esse esforço. Além disso, a ideia é mostrar as possibilidades de desenvolver tecnologia no Brasil, que tem ótimos engenheiros, mas está exportando muito em commodities e pouco em tecnologia. Na Alemanha, há cooperação entre centros de pesquisas e as empresas, o que poderia ser feito aqui.
Isso é feito em conjunto com a Câmara de Comércio Brasil-Alemanha?
Essa é a novidade. A VDI existe no Brasil há 53 anos, mas foi uma associação orientada a promover a confraternização entre os engenheiros. Quando assumimos há quase dois anos, tivemos uma orientação de profissionalizar esse trabalho. Assim, é fundamental essa parceria com a Câmara, que na área econômica tem o objetivo de facilitar o intercâmbio, o que tem feito há 92 anos, mas na área especificamente técnica não houve muito avanço. Agora, estamos preenchendo essa lacuna.
E como está a associação aqui no Brasil?
Estamos em fase de reformulação, agora começamos a crescer novamente e temos cerca de 100 sócios, mas temos uma base de interessados bem mais ampla. Potencialmente, todos os engenheiros que tenham interesse no intercambio tecnológico entre Alemanha e Brasil podem se associar à VDI. Por exemplo, todos os filiados ao SEESP.
Qual a ideia da parceria com o SEESP?
É uma parceria que traz vantagens para as duas entidades. Por um lado, o SEESP quer se internacionalizar e, no que diz respeito à Alemanha, somos os parceiros ideais. Acabamos de discutir que vamos fazer uma apresentação da situação da Alemanha aqui em São Paulo e temos planos de fazer, no ano que vem, um dia de tecnologia brasileira na Alemanha. O Brasil está numa fase de grande visibilidade no Exterior e pode também mostrar a tecnologia de ponta que detém, como no caso da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), da Eletrobrás (Centrais Elétricas Brasileiras S.A.), da Embraer (Empresa Brasileira de Aeronáutica S.A.) e da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo). Seria importante mostrar o que existe no Brasil e talvez ter uma complementação no lado alemão, que pode ser útil. Além disso, haverá cooperação para divulgação das entidades e para participação em seus eventos. Uma primeira oportunidade será o workshop sobre tecnologia na produção que realizaremos em 13 de agosto. Os filiados ao SEESP poderão se tornar sócios da VDI sem pagar anuidade 2009 e com isso participar do workshop com o mesmo desconto oferecido aos nossos associados.
Como funciona o apoio da VDI aos profissionais que desejam completar sua formação na Alemanha?
Há possibilidades de bolsas ou de trabalho como trainee. Os interessados podem se inscrever num banco de estágios pelo nosso site, assim como encontrar informações sobre bolsas, onde aprender alemão etc. Além do que está disponível lá, se precisar de mais informações, pode entrar em contato conosco por telefone. No ano que vem, vamos oferecer um curso de alemão técnico para engenheiros que já tenham conhecimento básico da língua.
Para entrar em contato:
www.vdibrasil.com.br
(11) 5180-2325
Rita Casaro